sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Manuscritos...













Legionários, olhem esses manuscritos do Renato Russo que encontrei no orkut da Francília, uma amiga legionária (espero que ela não fique zangada por eu ter pego sem avisá-la...) e vejam que interessante. Se não me engano, alguns manuscritos podem ser encontrados no encarte de O TROVADOR SOLITÁRIO, lançado ano passado com canções de Renato nos tempos de Brasília - só voz e violão.

Ah, a letra de Os Barcos manuscrita eu já tinha!
Em algumas é preciso clicar em cima para ampliar a imagem.
Força sempre!

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O Descobrimento do Brasil


No dia 15/12/1993 finalmente ganhei o tão esperado disco novo: O DESCOBRIMENTO DO BRASIL. Eu fui fazer uma prova de ... Biologia, se não me engano. Eu estava no 1º ano do ensino médio, e já tinha visto uma entrevista numa rádio em que Renato Russo garantia que o disco novo já se encontrava nas lojas. Ok, nesse eu podia confiar sem problemas.

Quando cheguei da escola, lá estava o disco. Foi uma ansiedade enorme, pois eu já sabia que a minha mãe iria comprar o disco pra mim naquele dia. Tirei o embrulho e vi a capa do LP. Adorei: a banda estava num lugar florido, parecido com o do clipe. Renato segurando um ramalhete de flores, estava com uma veste preta, como a de um cavaleiro das histórias medievais; Dado, sentado numa pedra, empunhava um bandolim vestido de caçador; Bonfá, sentado no chão, era um camponês. Uma capa bem interessante, pois dava um tom esperançoso ao disco.

Ouvi o disco e não parei mais. Até hoje eu o considero o melhor álbum da carreira da banda, sem dúvida nenhuma.

A poesia de Renato era a melhor até então – uma fase limpa, sem drogas e álcool, que ficaram evidentes nas letras (em especial Vinte e Nove, Um Dia Perfeito e Só Por Hoje). A situação do país também estava exposta no disco: A Fonte, Perfeição e Os anjos.

O título do disco chamou muito a minha atenção. Na verdade, a idéia do disco é mesmo esperançosa: mostrar que o Brasil não é apenas as coisas horríveis que lemos e vemos na mídia. É a descoberta de um outro Brasil: mostrar que é possível construir um país melhor, com pessoas íntegras, honestas, com valores. Por isso o disco fala muito de bondade, amor, simplicidade, amizade, espiritualidade... Ou como mesmo disse Renato, "dessas coisas que todo mundo diz que é brega".O disco é um contraponto ao anterior, V, que, segundo Renato, era o disco da lama (devido à crise do governo Collor), "agora a gente quer mostrar que esse país não é só de corruptos", declarou ele quando do lançamento do disco em 1993.

Desse disco saiu a última turnê da Legião Urbana e poucas cidades seriam visitadas. E eu pensei: se eles vierem ao Rio de Janeiro, eu não perderei por nada nesse mundo!!!!

Dito e feito: em 1994, após ao início da turnê, finalmente foram agendados os tão esperados shows no Rio, depois de quatro anos da turnê de AS QUATRO ESTAÇÕES.

Naquele ano, percebi que meu sonho de ver a minha banda favorita iria se tornar realidade...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O clipe de "Perfeição"


Num dia de novembro de 1993 (ou era setembro?), enquanto eu aguardava ansioso pelo lançamento do disco novo, o Fantástico apresentou o clipe da nova canção da Legião Urbana. Foi uma grata surpresa!

O clipe é um contraponto à letra: a banda está num lugar florido, belíssimo. Renato veste uma roupa preta no início e parece, ao lado de Dado e Bonfá, querer ver a sorte do Brasil. A letra mostra um país caótico, sem esperanças.


Logo em seguida, Renato canta vestido com uma bata branca. Dado toca guitarra e passeia com ela pelo campo. Bonfá toca um bumbo com um olhar sereno. Pétalas de flores voam por toda parte. Em certo momento, Renato, sentado debaixo de uma árvore, lê a Bíblia. Uma jovem camponesa passeia pelo ambiente campestre.

No fim, na parte esperançosa, Renato canta com emoção e dança por entre as flores. A jovem camponesa corre. Dado anda a cavalo.

Novamente Renato e os companheiros fazem uma previsão do Brasil.

Um clipe perfeito, digno da maior banda do Brasil.

Os fãs já conhecem, mas quem ainda não viu vale a pena conferir no YouTube:


sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Perfeição


Em 1992, para matar a minha sede de Legião (eu só esperava que saísse algo da Legião em 1993), foi lançado MÚSICA P/ ACAMPAMENTOS, um álbum duplo com gravações ao vivo em diversas épocas, bem interessante. Havia ainda uma inédita: A Canção do Senhor da Guerra, em versão eletrônica – prefiro ainda as versões acústica e punk.

Mas a grande alegria mesmo foi esperar pelo O DESCOBRIMENTO DO BRASIL. E a música de trabalho chegou em outubro de 1993. estava em casa e um colega comentou que tinha ouvido a nova música da Legião nas rádios. Segundo ele, só o final era legal: o começo praticamente Renato não cantava, só falava. Fiquei curioso e (como sempre) ansioso; lá fui eu sintonizar ora a Rádio Transamérica ora a Rádio Cidade para ver qual das duas passava primeiro a nova canção legionária.

Não lembro qual das duas me deu esse privilégio, mas finalmente ouvi a canção: um protesto como não se ouvia desde Que Pais é Este: Perfeição, com uma letra forte, contundente e irônica, desmascarando todos os problemas que fazem o povo e o seu país serem piores.
O ritmo? Um rock com guitarras fortes, distorcidas, uma bateria e um rhythm track bem ritmados, meio samba-rock. Os vocais de Renato (que também tocou baixo e teclados nessa música) são declamados, com revolta, amargurados, lembra quase um rapp (mas não é). A listagem de mazelas e de atrocidades era enorme: assassinatos, estupros, preconceitos, queimadas, mentiras, seqüestros, hipocrisias, roubos, fome, violência... E quando se acha que não haverá mais futuro, a canção se abre à maior de todas as virtudes, capaz de salvar a Humanidade perdida em meio ao caos: o AMOR.

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão.


Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera -
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição.


Uma canção perfeita. Só um fã de verdade ou alguém que tenha consciência crítica poderia entender a mensagem dessa letra. Passei a ligar o rádio todos os dias para ouvir e tentar decorar a letra-manifesto (mais uma vez, um hit-single sem refrão e sem rimas fáceis).

Assim, começou mais uma grande espera em minha vida de legionário: o novo disco da Legião.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um homem de imaginação fértil


Renato Russo tinha uma imaginação muito fértil.

Quando era adolescente, quando ainda assinava Manfredini Junior, teve um problema na perna (vítima de uma doença rara chamada epifisiólise, que destruiu a cartilagem da sua perna), passou um ano e meio entra a cama, a cadeira de rodas e as muletas.

Diante desse problema que o fez sofrer muito, acabou sendo uma fase muito produtiva, em que começou a ler muito, ouvir rock e, principalmente, escrever. Nesse período, criou um alter-ego, um heterônimo: Eric Russel, bonito e louro, tinha várias garotas, líder, vocalista e baixista da banda imaginária Forty Second Street Band. A coisa ficou tão séria, que Renato compôs as letras, elaborou a discografia, as capas dos discos, fichas técnicas, entrevistas, turnês...

Ele me fez lembrar muito um outro ídolo meu (e do Renato também, coincidência): o poeta português Fernando Pessoa, que tinha seus heterônimos.

Daí já dá pra percebermos que a criatividade de Renato começou bem antes da Legião Urbana.

O que me deixa pensativo era se ele já tinha a consciência de que teria futuro como músico, sendo adorado por milhares de fãs em todo o Brasil à frente daquela que se tornaria a maior banda do Brasil. Mas acho que, quando montou a sua primeira banda, o Aborto Elétrico, ele já tinha a consciência de que aquilo iria para frente, enquanto a maioria via a música apenas como diversão. Dinho Ouro-Preto, num especial da Band sobre o show da Legião no Rio (turnê O DESCOBRIMENTO DO BRASIL), já havia comentado isso.

Aliás, Renato mesmo havia dito aos seus que queria ter a banda mais popular do Brasil.

Com seu talento e sua imaginação, Renato realizou o seu sonho, tornando-se assim o grande ícone do Rock Nacional.

Força sempre, Renato!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

V, o retrato de uma época conturbada


Não esqueço até hoje quando começou a tocar o novo hit single da Legião Urbana, O Teatro dos Vampiros, carro-chefe do quinto álbum.

Estávamos em setembro (ou outubro?) de 1991, se não me engano. As rádios começaram a tocar O Teatro dos Vampiros direto e já fiquei ansioso: quando será lançado o disco novo?

Aí os falsos colegas, cientes do meu amor pela banda, começaram inventar: vai ser lançado no dia 02/11/1991. fiquei meio desconfiado: era dia de finados. A Legião não seria tão mórbida assim. No entanto, fui ao shopping de Madureira (que estava aberto) conferir e nada de disco novo. Droga! Fui enganado.

Depois (acho que em novembro) um outro imbecil disse que foi ao shopping fazer compras e viu o álbum novo nas lojas. Ele disse que a capa era branca com os três legionários usando (absurdamente) dentes postiços de vampiro – em alusão à música de trabalho. Eu tinha 14 anos, era muito jovem e louco pela banda, acabei acreditando nessa mentira (tenho vergonha de assumir, mas foi o que aconteceu). E lá fui eu ao shopping... Nada, obviamente. Enganaram-me de novo. Como eu era inocente!

No dia 1º de dezembro de 1991 (tenho quase certeza) finalmente foi lançado o disco: V era o seu nome. A rádio Transamérica fez um especial: comentários do Renato e canções do álbum novo apareciam durante toda a programação. De cara fiquei impressionado com Vento no Litoral (pelo instrumental lento e bem trabalhado e pela letra triste) e a viagem neoprogressiva de Metal contra as Nuvens, em seus mais de 12 minutos.

Ganhei o disco de presente da minha mãe em meados de dezembro: ouvi-lo pela primeira vez foi emocionante! E o coloquei para tocar na vitrola várias outras vezes, atento a cada letra, a cada riff de guitarra, a cada violão, a cada teclado, a cada levada de bateria... A capa já era sutil: um amuleto com uma lua e uma estrela. Na parte de trás havia outro amuleto cheio de detalhes e com o V no centro. Linda!

Depois, todos os fãs de verão da banda começaram a jogar pedra no álbum, pois queriam uma continuação de AS QUATRO ESTAÇÕES. Renato & Cia queriam ir além do óbvio. Era um disco difícil, obscuro, com temas pesados e medievais... O lado 1 do vinil então... Nem se fala! Uma viagem! A crítica também se mostrou dividida. Pouca gente percebeu que aquele era um retrato conturbado de uma época difícil: Renato estava falando nas entrelinhas de seus problemas pessoais (AIDS e heroína) e dos problemas do país (Era Collor). Enfim, as pessoas não estavam preparadas para ouvir um disco tao denso e hermético como aquele.

Só muito mais tarde o disco foi assimilado e reconhecido pela mídia e fãs como um clássico da banda. Mas eu, como um legionário, já via aquele disco como uma obra de arte, um disco feito para refletir sobre a vida e sobre a situação do Brasil, numa época em que as duplas sertanejas estavam no auge. Ou seja, músicas fáceis para o gosto popular.

Enquanto muita gente se mostrava decepcionado com o resultado do disco na época, eu senti orgulho pela minha banda do coração: aquele era um disco essencial para a carreira da Legião, que a manteria no topo como a maior banda do Brasil.

Mais uma vez o lema da banda URBANA LEGIO OMNIA VINCIT (Legião Urbana a tudo vence, em latim) prevaleceu, como sempre prevalecerá.

Ouçam V no volume máximo! Força sempre!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

B-sides da Legião Urbana

É claro que os clássicos da Legião Urbana são inesquecíveis e marcaram várias gerações de fãs em todo o Brasil. Isso não se discute.

Mas, não sei por que, eu prefiro os chamados b-sides (lados b) da obra legionária. B-sides, para quem não sabe, são as canções mais obscuras de uma banda, que entram num disco mas não fazem sucesso.

Todo mundo conhece os clássicos, até quem não é legionário ou rockeiro conhece. Eu mesmo conheço pagodeiros e funkeiros que adoram canções como Pais e Filhos, Faroeste Caboclo, Eduardo e Mônica, Monte Castelo, Tempo Perdido entre outras.

E essas canções, ainda por cima, tocam tanto nas rádios que fazem muita gente dizer: "Já enjoei de tanto ouvir. Chega!"

É claro que isso não acontece comigo, continuo ouvindo os grandes sucessos como se fossem a primeira vez (ok, eu confesso: às vezes pulo, nos cds, faixas como Eduardo e Mônica e Ainda é cedo – mas é só de vez em quando!). Ainda mais porque clássicos e chuvas de verão são coisas completamente diferentes. Quem já ouviu NX Zero e outras bandas desse estilo sabe bem do que estou falando.

O legal mesmo é ouvir aquelas canções que quase ninguém conhece.

Ouvir uma canção como Clarisse, por exemplo, não é pra qualquer um, só pra fã mesmo: E Clarisse está trancada no banheiro / E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete / Deitada no canto, seus tornozelos sangram / E a dor é menor do que parece / Quando ela se corta ela se esquece / Que é impossível ter da vida calma e força / Viver em dor, o que ninguém entende / Tentar ser forte a todo e cada amanhecer.

Natália, um rock pesado com uma letra depressiva, mostrava bem o estado emocional do Renato em 1996 (ano de sua partida): Vamos falar de pesticidas / E de tragédias radioativas / De doenças incuráveis / Vamos falar de sua vida / Preste atenção ao que eles dizem / Ter esperança é hipocrisia / A felicidade é uma mentira / E a mentira é salvação / Beba desse sangue imundo / E você conseguirá dinheiro / E quando o circo pega fogo / Somos os animais na jaula / Mas você só quer algodão-doce / Não confunda ética com éter / Quando penso em você eu tenho febre.

A Fonte é uma das minhas canções preferidas: um rock que alterna vocais suaves e agressivos (com direito a discurso de Renato em megafone) mostrando as mazelas sociais: O que há de errado comigo? / Não consigo encontrar abrigo / Meu país é campo inimigo / E você finge que vê, mas não vê. Mais à frente ele cita a mitologia para mostrar a passagem desse mundo para o vale dos mortos, segundo a mitologia grega: Do lado do cipreste branco / À esquerda da entrada do inferno / Está a fonte do esquecimento / Vou mais além, não bebo dessa água / Chego ao lago da memória / Que tem água pura e fresca / E digo aos guardiões da entrada / "Sou filho da Terra e do Céu".

O Livro dos Dias é a canção mais melancólica e enigmática da Legião, é a de que eu mais gosto, com certeza. A guitarra de Dado cria um clima deprê em sintonia com os teclados angustiantes de Carlos Trilha (músico contratado) e com uma bateria marcante de Bonfá. Os primeiros versos são de uma beleza obscura: Ausente o encanto antes cultivado / Percebo o mecanismo indiferente / Que teima em resgatar sem confiança / A essência do delito então sagrado / Meu coração não quer deixar / Meu corpo descansar / E teu desejo inverso é velho amigo / Já que o tenho sempre a meu lado.

E por aí vai: O Descobrimento do Brasil, Os Barcos, Perdidos no Espaço, Teorema, Plantas Embaixo do Aquário, Acrilic on Canvas, Mauricio, A Montanha Mágica, L’Age D’Or, Metal Contra as Nuvens, Uma Outra Estação, A Tempestade, La Maison Dieu, L’Avventura, Esperando por Mim, Longe do Meu lado etc etc etc...

Faça também a sua lista preferida de b-sides.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Invente suas próprias canções

Para ajudar na reflexão do post anterior, vale a pena ouvir Marcianos Invadem a Terra, que Renato compôs nos tempos de Brasília, quando era conhecido como O Trovador Solitário, no início dos anos 80. A canção, entretanto, encontra-se no álbum Uma Outra Estação, de 1997.

Vale a pena refletir principalmente o que Renato disse nos seguintes versos:

E o carinha do rádio não quer cala a boca
E quer o meu dinheiro e as minhas opiniões
Ora se você quiser se divertir
Invente suas próprias canções.

Músicos limitados?


Quando se fala em Legião Urbana, muitas pessoas logo dizem: “As letras da banda são muito boas e inteligentes, porém o instrumental... acho muito fraco”.

Claro que cada um tem a sua opinião, mas não concordo com isso. A força da Legião está no conjunto, no talento de cada membro. Claro que as letras do poeta são fantásticas e chamam a atenção de quem tem um mínimo de sensibilidade. Mas não é bem assim que uma grande banda ganha respeito de mídia e público.


Além das ótimas letras do líder Renato Russo (sobre temas diversos como amor, amizade, espiritualidade, sociedade, política entre outros que nos levam à reflexão e ao questionamento) e da sua contribuição no instrumental (violão, teclados etc), deve-se valorizar os outros legionários que compunham a banda: Dado Villa-Lobos (guitarras, violão, bandolim, cítara etc), Marcelo Bonfá (bateria, percussão etc) e Renato Rocha (baixo nos três primeiros discos).

Mas continuarão falando: “São músicos limitados!”

Mas por isso a música é ruim? Para ser boa, é preciso que tenha vinte acordes, arranjos difíceis e os músicos devem ter estudado durante séculos?


Renato disse certa vez que o bom do rock era que não se aprendia na escola. Ele estava certo.

Então, será que o mais importante não deveria ser a emoção que a música nos proporciona, que não se limita ao fato de uma música ter três, quatro ou trinta acordes?

Além do mais, Renato / Dado / Bonfá criaram canções originais, maravilhosas, e muitas delas já duram há mais de 20 anos. Não é todo mundo que consegue isso. Sem falar que muita gente que se diz tocar melhor que eles estão por aí fazendo covers, simplesmente imitando outros músicos. Se a Legião é ruim, por que então eles copiam suas músicas, por que não criam nada de novo, não mostram a sua criatividade? E daí que a canção Que País é Este tem apenas três acordes? Pelo menos foram eles que compuseram.



Músicos limitados? Não acredito. Cada um tem o seu estilo, o seu jeito de tocar e até as suas influências (que não pode ser confundido com imitação).

Quem conhece toda a obra legionária sabe do que estou falando.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Renato não queria ser um porta-voz


Renato não queria que o seguissem, não queria que o vissem como um profeta, um anunciador de verdades... Há uma entrevista concedida nos anos 90 (acho que em 1994 ou 1995) em que ele diz com sinceridade:

“Eu tento ser sincero, né, gente? Mas não quer dizer que eu sou verdadeiro em tudo. Eu gosto de deixar bem claro que são apenas canções. As pessoas começaram a confundir minhas músicas com quem eu sou. E eu sinceramente não sei direito ainda quem eu sou. Tomo um certo cuidado para me preservar e preservar o público, porque acredito que não existem hérois. Existem pessoas realmente espetaculares, espiritualizadas, religiosas, que são grandes modelos para a humanidade, mas, na verdade, todo mundo é igual. Eu não acredito que eu tenha uma verdade a mais e… Se a juventudade cai nesse erro de acreditar que sim, inevitavelmente vai acabar descobrindo que o ídolo delas tem pés de barro.”

Ele disse certa que falava porque gostava, não porque queria salvar o mundo. Sabia que a felicidade, a busca de um sonho dependia de cada um. Renato não queria ser nenhum emissário da boa nova, não queria dizer como as pessoas deveriam viver...

Isso fica claro nesses versos de Teorema, do 1º álbum (1985):

Não tenha medo / Não preste atenção / Não dê conselhos / Não peça permissão / É só você quem deve decidir o que fazer / Pra tentar ser feliz.

Não é preciso dizer mais nada.

Quem era Renato Russo?


Muito se fala a respeito de Renato Russo... Uns o consideravam um anjo (torto?), outros um demônio.

A mídia (e também muitos fãs) já o chamou de poeta, louco, depressivo, inteligente, alcoólatra, homossexual, promíscuo, dependente químico, revoltado, rebelde, profeta, sensível... Terno e agressivo, oscilando momentos de alegria e tristeza, Renato foi um ícone para várias gerações.

Mas de uma coisa podemos ter certeza: ele era um cara comum e ao mesmo tempo complexo. Sua vida foi um livro (ops, um disco) aberto, em que ele se expunha corajosamente nas letras e nas entrevistas sem medo das críticas. Foi muitas vezes polêmico e chegou a assumir publicamente a homossexualidade, mesmo numa sociedade machista e preconceituosa como a nossa. Interessante é perceber que mesmo os fãs mais jovens, com preconceitos já enraizados, mantiveram o respeito pelo seu ídolo.


Não era um cara de ir ao Faustão ou outros programas de auditório e participar de quadros como “Minha Vida” ou coisa parecida. Era reservado, tinha momentos em que não estava para ninguém, nem para os fãs, e preferia ficar sozinho.

Mas as pessoas sempre se atentam ao lado “mórbido’ do Renato: cheio de problemas, depressivo, agressivo, até mesmo arrogante... Mas é porque ele não queria ser e passar apenas uma imagem mitificada, ele era de carne e osso, cheio de defeitos.

Ele era também sincero, bondoso, sensível, amigo, brincalhão, generoso, íntegro, responsável... Ele era assim. Na verdade, todos nós somos assim: temos qualidades e defeitos. O que acontece é que os programas de auditório querem endeusar os cantores populares (Daniel, Leonardo e esses grupinhos de pagode) como se nunca tivessem cometido um pecado na vida. Falta humanidade e legitimidade em 99% dos artistas pop.

Com o Renato eu aprendi que cada ser humano é único, é insubstituível e deve ser respeitado em sua essência. Até hoje minha admiração pelas suas mensagens em suas letras, pela sua forma de ver o mundo e pela sua coragem de se expor continua a mesma.

Ele foi um amigo distante que me ensinou muito a ser eu mesmo, sem medo das críticas. Como cantou ele numa de suas últimas canções escritas: “Não me digam como devo ser / Gosto do jeito que sou / Quem insiste em julgar os outros / Sempre tem alguma coisa pra esconder” (Uma Outra Estação).

Concordo com ele.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Cada disco tem uma história diferente


Engana-se quem diz que todos os discos da Legião são iguais.

Cada disco segue uma temática, uma idéia central... Sem falar que, musicalmente, um disco nunca é igual ao outro: o primeiro (LEGIÃO URBANA) tem vestígios do punk e pós-punk, tem agressividade e ternura na medida certa; o segundo (DOIS) é mais intimista, além do pós-punk tem muito folk, que era uma paixão do Renato; o terceiro (QUE PAÍS É ESTE – 1978/1987) volta às origens de Brasília e faz uma ponte com o presente da banda, apontando para um possível futuro; o quarto (AS QUATRO ESTAÇÕES) é o mais lírico até então, melancólico, intimista, pop; o quinto (V) é totalmente diferente: lento em quase todas as faixas, obscuro, hermético, uma viagem neo-progressiva e triste pela solidão e pelo Brasil que afundava na fome e na corrupção; o sexto (MÚSICA P/ ACAMPAMENTOS) é o primeiro álbum duplo da banda e é uma colcha de retalhos com canções ao vivo, novos arranjos e apenas uma canção inédita (A Canção do Senhor da Guerra); o sétimo (O DESCOBRIMENTO DO BRASIL) é mais alegre e esperançoso, já pela capa, mostrando a banda num lugar florido (“a gente quer mostrar que esse país não é só de corruptos”, comentara Renato na época); o oitavo (A TEMPESTADE OU O LIVRO DOS DIAS) veio a ser o álbum mais depressivo da banda graças à consciência que Renato tinha do fim iminente, uma vez que estava muito doente; e, por fim, temos o irmão gêmeo do anterior, o nono álbum (o póstumo UMA OUTRA ESTAÇÃO), que marca o fim de um ciclo, mostrando o passado e o presente da banda, apresentando rocks, baladas, até um blues e um rock gótico.

Agora me digam: todos os discos da Legião são iguais, musical e poeticamente? Ouçam e tirem suas conclusões.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

O colecionador e a formação legionária


Como eu comentei no meu 1º post, eu comprei AS QUATRO ESTAÇÕES em 15/06/1990 e me tornei legionário.

Descobri que esse era o quarto álbum da banda. Portanto, ainda havia três álbuns da Legião que eu não conhecia.

Minha obsessão passou a ser comprar esses discos o mais breve possível. Então, pedi à minha mãe um presente (ou melhor, três presentes): os discos da Legião que faltavam para a minha coleção.

No dia 19/12/1990 (exatamente um ano após o falecimento do meu pai) fui com a minha mãe ao centro da cidade comprar meus presentes.

Cheguei numa loja que vendia todos os discos e os levei feliz para casa. No trem fiquei ansioso para chegar logo, e contava cada estação que faltava... Era aproximadamente uma hora de viagem, acho. Nossa, sempre sofri de ansiedade! Acho que abri o pacote de presente no trem mesmo, peguei o encarte, abri, li algumas letras. Gostei do detalhe do álbum LEGIÃO URBANA, com aqueles desenhos egípcios e romanos, se não me engano.

Lembro que um homem evangélico me perguntou se aqueles discos eram evangélicos, e eu disse que não, que eram de rock.

Cheguei em casa e ouvi todos, mas minha irmã também havia ganho LPs, então cada um revezava ouvindo um de seus discos e dava a vez para o outro.

Depois que eu ouvi todos os discos não parei mais de ouvir, pensar, respirar Legião Urbana todos os dias. As canções passaram a fazer parte do meu cotidiano e da minha ideologia, do meu modo de ver e sentir o mundo. Não era tão-somente entretenimento. Era uma forma de me expressar. A partir dali, no entanto, começou a minha agonia: esperar pelo novo álbum da minha banda favorita.

Uma coisa é certa: minha formação (social, política, psico-afetiva) deve muito à Legião Urbana, graças aos discos que coleciono desde 1990.

Como se mede o amor à Legião Urbana?


Na verdade, Legião Urbana é uma paixão para um legionário, que marcou a sua vida em algum momento inesquecível, seja na adolescência, na fase adulta mesmo, num amor perdido ou conquistado, em alguma fase rebelde, num momento de reflexão...

Para mim, a Legião Urbana chegou logo depois do falecimento do meu pai, que foi uma dor muito grande. E assim Legião Urbana entrou em minha vida dizendo tudo aquilo que eu estava sentindo, mas não sabia como me expressar. Esta era a magia da banda, que conquistou tantos fãs em todo o Brasil e até em alguns países da América Latina: falar de coisas que um jovem vive, pensa e sente.

Mas como se mede o amor que um legionário sente pela Legião?

Eu não sei... Mas posso falar por mim.


Fascinado pela banda, comecei a comprar tudo sobre a banda: os vinis (que foram lançados nesse formato até O DESCOBRIMENTO DO BRASIL); depois comprei a caixa Por Enquanto, com os seis primeiros cds de estúdio remasterizados em Londres; comprei todos os cds de estúdio e ao vivo que foram lançados depois, sem falar nos cds da carreira-solo dos legionários, especialmente do Renato Russo; passei a colecionar tudo o que foi publicado na imprensa escrita e coloquei em pastas-catálogo (acho que tenho hoje cerca de seis páginas abarrotadas de matérias e entrevistas de jornais, revistas e Internet); tenho cerca de uma dúzia de camisas da Legião e Renato Russo; consegui – comprando e trocando – várias gravações raras (áudio e vídeo) ao vivo da banda...


Ah! E não poderia me esquecer de dizer: fui ao show O DESCOBRIMENTO DO BRASIL em 09/10/1994, no Rio de Janeiro, no antigo Metropolitan, que foi inesquecível, mas isso é assunto para outro dia. Mas posso adiantar que ver no palco DADO/RENATO/BONFÁ e sentir toda aquela energia por mais de duas horas foi uma experiência inexplicável. Quem foi a algum show da banda sabe do que estou dizendo.

Enfim, esse é o meu amor pela Legião Urbana; algumas pessoas já falaram que é exagero, que eu sou fanático e tal... Falem o que quiserem. As canções fazem parte da minha vida desde a adolescência até o dia de hoje, marcaram a minha existência e sempre há um verso, uma canção que me marcou em algum momento. Poucas bandas conseguem essa identificação com o seu público.

Enfim, cada legionário tem a sua história de amor com a Legião Urbana.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Temos nosso próprio tempo


A canção Tempo Perdido, do álbum DOIS, de 1986, tem um dos clipes de que mais gosto. Em preto e branco, com a banda tocando num espaço sombrio, considero clássicos o clipe e a canção, sem falar na mensagem tão reflexiva que a letra passa para todas as pessoas, em especial aos jovens.

Renato Russo está inquieto, num misto de raiva e ternura. Sua dança é hipnótica, impressionante, parece querer exorcizar seus demônios. Dado Villa-Lobos está novo, de cabeça baixa quase todo o tempo, tímido como sempre. Renato Rocha (Negrete / Billy) de chapéu, usando suspensório como o pessoal punk/careca. Marcelo Bonfá tocando ao fundo com energia, sempre muito sério, na dele. Uma banda como nunca mais verei no cenário do rock nacional.

Ao fim do clipe é interessante ver uma senhora varrendo uma grande quantidade de folhas secas no local deixado pela banda. Dá uma idéia de tempo que passou mesmo.

Enquanto isso, a todo momento, para reforçar ainda mais o tema da canção de fazer o seu próprio tempo, uma televisão mostra vários artistas do mundo do rock em fotografias ainda jovens, antes da fama. Tem gente como Paul & John Lennon (Beatles), Janis Joplin, John Lydon (Sex Pistols) e outros que ainda não reconheci.

O clipe no You Tube está logo abaixo para quem quiser ver e conferir. Quem descobrir outros ídolos do rock pode comentar à vontade.

Filme sobre a vida de Renato Russo


Agora parece que vai sair do papel.

As filmagens do filme sobre a vida de Renato Russo estão previstas para começar no segundo semestre de 2009. O ator que fará o papel do poeta será Thiago Mendonça, que fez o homossexual Bernardinho na novela “Duas Caras” da Rede Globo. Ele já havia participado, no cinema, de “Dois Filhos de Francisco”.

Para ser Renato Russo nas telonas, Thiago viajou a Brasília para conversar com a mãe de Renato, Dona Maria do Carmo que, segundo ele, o recebeu no colo.

O nome do filme será SOMOS TÃO JOVENS, por sugestão da própria Dona Maria do Carmo. O título inicial era RELIGIÃO URBANA. Com certeza Renato detestaria esse título, uma vez que ele era contra todo tipo de fanatismo.

O diretor do filme é Antonio Carlos da Fontoura, que foi quem fez o convite para o jovem ator.

Olhando bem para ele, até que tem uma certa semelhança com o poeta: o nariz, o sorriso... Sim, lembra mesmo. Ainda mais que o filme irá focar apenas a juventude de Renato em Brasília, antes do sucesso.

Os legionários esperamos há muito tempo esse filme. Dessa vez parece que o projeto irá para frente. É esperar para ver.

Só queremos uma coisa: que o filme fique à altura de Renato Russo e sua grande obra. Ele merece isso.

AS Quatro Estações: Doutrinação Legionária


No dia 15/06/1990 minha mãe foi ao banco receber a sua pensão (meu pai havia falecido em 19/12/1989) e eu, é claro, fui com ela.

Quando voltávamos, entramos na loja Ultralar (hoje em dia já falida), no Méier. Fui à seção de discos (na época não existia CD, só fitas k7 e discos de vinil) e encontrei finalmente AS QUATRO ESTAÇÕES. A capa me encantou pela simplicidade. Dado, Renato e Bonfá tinham um semblante sereno na capa.

“Então esse é o cara que fez todas essas letras, né?”, pensei ao olhar para o Renato, certo de que aquele era o vocalista e o letrista da banda. Simpatizei de cara com ele.

Quando vi o Dado usando um brinco, não sei por que, tive vontade de colocar um também, numa época em que não era comum ver pessoas “normais” usarem. Dito e feito: no ano seguinte (1991), eu, então com 14 anos, peguei coragem e entrei numa loja para furar minha orelha, para assombro dos vizinhos e dos colegas de escola.

Mas voltando ao disco... Cheguei em casa afoito para ouvi-lo, mas o toca-discos da minha casa estava com problemas, então fui a casa da vizinha pedir se eu poderia ouvir lá. Sem problemas.

Foi emocionante ouvir AS QUATRO ESTAÇÕES pela primeira vez. Algo como uma revelação divina. Cada canção, cada acorde, cada letra, tudo era novidade para mim. Sem falar que aquele era o primeiro disco que eu ganhei na vida. Digo disco de rock, pois na infância já havia ganho discos do Trem da alegria, Balão Mágico e outras coisas irrelevantes de criança.

Depois sofri para ouvir o disco de novo. Tive que arrumar o meu toca-discos (na verdade, foi só trocar a agulha) para conseguir ouvir de novo.

E cada vez que eu ouvia esse disco sentia sempre uma nova emoção. E não conseguia mais parar de ouvir. Chegava da escola e colocava o disco para tocar. Mais de uma vez por dia. Todo dia. Todo dia.

Quando fui ver (quase sem querer?), havia me tornado um Legionário.

Um legionário de coração e alma!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Meu primeiro encontro com a Legião Urbana


Lembro como se fosse ontem...

Eu tinha 13 anos na época (isso há mais de 18 anos), estava em minha casa (morava em Marechal Hermes, subúrbio do Rio de Janeiro) e, de repente, o rádio do meu vizinho toca uma canção que me chama a atenção. Bela melodia, letra interessante, voz grave, forte.

“Quem será?”, pensei. Eu não ligava muito para música, preferia ver e jogar futebol. Liguei o meu aparelho de som e fiquei esperando. Logo já havia escutado a canção várias vezes, ora na rádio Cidade ora na Transamérica. Essa canção ficava sempre em 1º lugar nas programações. Fiquei viciado e passei a ligar o som todos os dias para ouvi-la.

O nome da canção? Logo fiquei sabendo: era “Pais e Filhos”, do álbum “As Quatro Estações”, lançado no final de 1989 (estávamos, nessa época, no início de 1990).

Depois as rádios passaram a mostrar outras canções, como “Monte Castelo” e “Meninos e Meninas”.

Aos poucos, fui ficando interessado pela banda. Logo veio a idéia: vou comprar esse disco!

E fui correndo pedir à minha mãe “As Quatro Estações” de presente.