quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A Poética Romântica de Renato Russo - "Renato Russo: o poeta sonhador"


5.4. Renato Russo: o poeta sonhador
O romântico deseja um mundo novo pelas vias do sonho, da imaginação. Dessa forma, percebemos na poesia de Renato Russo o desejo de sonhar, em detrimento da realidade que ele não aceita. Em “Eu era um lobisomem Juvenil”, do quarto álbum, diz:

Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo
Prefiro acreditar no mundo do meu jeito.

O desejo de sonhar com um mundo melhor leva o eu lírico a buscar o diálogo, a encontrar sintonia com o outro em meio à falta de diálogo na sociedade corrompida, como pode ser visto em “Petróleo do Futuro”, do primeiro álbum:

Ah, se eu soubesse lhe dizer o que eu sonhei ontem à noite
Você ia querer me dizer tudo sobre o seu sonho também.
E o que é que eu tenho a ver com isso?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Monografia "A poética Romântica de Renato Russo" - Renato Russo, o reformista


5.3. Renato Russo: o reformista
Os românticos tinham o desejo de criar um novo mundo, de lutar por direitos humanos, por liberdade, enfim, de revolucionar.
Renato Russo foi um revolucionário, um inconformado, um rebelde, com desejo de justiça e liberdade, o que pode ser visto em várias letras. Em “Geração Coca-Cola”, por exemplo, Renato convida a juventude à revolução:

Depois de vinte anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do seu jogo sujo
Não é assim que tem que ser?

Vamos fazer nosso dever de casa
E aí então, vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis.

Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Nós somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Monografia "A Poética Romântica de Renato Russo" - Renato Russo: o poeta da emoção subjetiva

5.2. Renato Russo: o poeta da emoção subjetiva
As letras de Renato Russo seguiram uma coerência poético-romântica.
Podemos ver algumas características românticas (COUTINHO, 1969: 6-7) e compará-las com a temática abordada por Renato Russo nas letras da Legião Urbana:

· Subjetividade e individualismo
Renato Russo escreveu letras confessionais, falou sobre as tristezas que machucavam o seu coração, sobre suas dores emocionais, sobre amor, sentimentalismo.
Sobre o seu individualismo, Renato Russo disse: “Sou anarquista e individualista, tenho uma visão poética, mas não me considero poeta. Procuro o belo” (PASSOS, 1995: 24).
“Será”, do primeiro álbum, traz versos que explicitam bem a visão romântica de Renato Russo, de um país que emergia dos escombros do regime militar e vislumbrava uma lenta abertura democrática, com o início da campanha “Diretas-Já”. Individualismo, solidão e a não pertença a nenhuma forma de dominação são traços românticos presentes na letra:

Tire suas mãos de mim
Eu não pertenço a você
Não é me dominando assim
Que você vai me entender
Eu posso estar sozinho
Mas eu sei muito bem aonde estou
Você pode até duvidar
É só que isso não é amor.

Numa de suas letras mais subjetivas, “Soul Parsifal”, do oitavo álbum, Renato mostrava bem a sua individualidade, ao mesmo tempo em que fazia um balanço de sua vida:

Ninguém vai me dizer o que sentir
Meu coração está desperto
É sereno o nosso amor
E santo este lugar.

Dos tempos de tristeza
Tive o tanto que era bom
Eu tive o teu veneno
E o sopro leve do luar.

Porque foi calma a tempestade
E tua lembrança, a estrela a me guiar
Da alfazema fiz um bordado
Vem, meu amor, é hora de acordar.

Tenho anis, tenho hortelã
Tenho um cesto de flores
Eu tenho um jardim e uma canção.

Vivo feliz, tenho amor
Eu tenho um desejo e um coração
Tenho coragem e sei quem eu sou
Eu tenho um segredo e uma oração.

Vê que a minha força é quase santa
Como foi santo o meu penar
Pecado é provocar desejo e depois renunciar.

Estive cansado
Meu orgulho me deixou cansado
Meu egoísmo me deixou cansado
Minha vaidade me deixou cansado.

Não falo pelos outros
Só falo por mim
Ninguém vai me dizer o que sentir.

Tenho jasmim, tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã.

Ninguém vai me dizer o que sentir
E eu vou cantar uma canção pra mim.
Em “Uma Outra Estação”, do nono álbum, Renato afirma sua subjetividade:
Não me digam como devo ser
Gosto do jeito que sou.

Em “Sete Cidades”, do quarto álbum, Renato expressou seus sentimentos em relação ao amor:

Meu coração é tão tosco e tão pobre
Não sabe ainda os caminhos do mundo.
Quando não estás aqui
Sinto falta de mim mesmo
E sinto falta do teu corpo junto ao meu.

· Ilogismo
Não havendo lógica na atitude romântica, vemos a oscilação entre pólos opostos de alegria e melancolia, entusiasmo e tristeza (COUTINHO, 1969: 6).Renato Russo encaixa-se bem nessa característica, uma vez que ele mesmo se considerava psicótico-maníaco depressivo, como já comentado antes, alternando fases de alegria (ou pelo menos de serenidade pragmática) e depressão profunda.“Quase sem Querer”, do segundo álbum, mostra bem isso:

Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente:
Estou tão tranqüilo e tão contente.

Em “Uma Outra Estação”, do nono álbum, a instabilidade do espírito do eu lírico novamente nos coloca diante de signos e imagens:

Sei que não tenho a força que tens
Se me vejo feliz quase sempre exijo um talvez.
Ela mora perto de um vulcão
E meu coração suburbano espera riquezas maiores.
Eu sigo o calendário maia
Sou descendente dos astecas

· Senso de Mistério
O espírito romântico, segundo Coutinho (1969: 6), é atraído pelo mistério da existência e, na sua individualidade, encara o mundo com espanto, pois tudo lhe parece sempre novo: a melancolia, a própria vida, que ele procura viver independente de tradições.Renato Russo, em suas letras intimistas, sempre demonstrou fascínio pelo mistério da vida, do universo, da existência. Em “Quase sem Querer” mostra-se fascinado pelas coisas que não têm explicação, entre a complexidade e o cotidiano:

Tão correto e tão bonito
O universo é realmente
Um dos deuses mais lindos.
Sei que às vezes uso palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?
· Escapismo
Renato Russo, diante de uma sociedade caótica, sonhava com um mundo idealizado e perfeito, onde o amor e o respeito prevalecessem. Em “Vamos Fazer um Filme”, Renato nos apresenta imagens carregadas de muita emoção para mostrar como deveria ser o mundo.
A letra começa mostrando o amor como o grande salvador. O eu lírico, saudoso, busca na imagem (fotografia) a volta ao passado. Tal temática é constante no Romantismo, como nos poemas de Casimiro de Abreu:

Achei um 3x4 teu e não quis acreditar
Que tinha sido há tanto tempo atrás
Um exemplo de bondade e respeito
Do que o verdadeiro amor é capaz.

O poeta sente a necessidade de criar um mundo maravilhoso, que foge da lógica e do racional. Vale lembrar que o Romantismo trabalha também com o ilogismo. Assim, as imagens desse escapismo são cinematográficas:

Sem essa de que: "Estou sozinho."
Somos muito mais que isso
Somos pingüim, somos golfinho
Homem, sereia e beija-flor
Leão, leoa e leão-marinho.

Logo em seguida, mostra toda a sua carência e a necessidade de ter a sua individualidade respeitada:

Eu preciso e quero ter carinho, liberdade e respeito
Chega de opressão
Quero viver a minha vida em paz.
Quero um milhão de amigos
Quero irmãos e irmãs
Deve de ser cisma minha
Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos trinta
E no meio de uma depressão
Te ver e ter beleza e fantasia.

Renato questiona sobre a vivência do amor numa sociedade sem compaixão e que se esqueceu de valorizar os sentimentos mais puros e sem interesses mesquinhos. O final lembra o clássico happy end dos filmes de amor:

E hoje em dia, como é que se diz: "Eu te amo."?
Eu te amo
Eu te amo
Eu te amo

Sobre essa letra, comentaram Castilho & Schlude (2002: 81):

Os escapismos dão-se em várias letras como em “Vamos fazer um Filme”. A necessidade de se libertar dessa vida como um todo é uma necessidade constante, está de acordo com o mal-estar do eu romântico que anseia escapar desse mundo.

Monografia "A Poética romântica de Renato Russo" - Renato Russo: o poeta engajado


5.1. Renato Russo: o poeta engajado
No início dos anos 80, o nevoeiro da ditadura militar havia se dissipado e o Brasil começava a viver um processo de democratização e Diretas-Já, em que o povo reivindicava seu direito ao voto.
Tancredo Neves surgia como uma esperança para o povo, símbolo de novos tempos, primeiro presidente depois do período militar. O Colégio Eleitoral elegeu-o em 1985, mas sua doença e morte naquele mesmo ano fizeram com que José Sarney assumisse o governo do país. O plano cruzado deu ao povo a utopia de um futuro melhor, mas o que se viu foi a inflação subir de forma estratosférica, o desemprego ganhar proporções alarmantes, muita insatisfação nas ruas, miséria, um período que até a musica brasileira, como protesto e voz do povo, não apresentava novidades. Surgiam assim grupos de defesa aos Direitos Humanos, ONG’s (Organizações Não Governamentais) defendendo o meio ambiente e contra a devastação ecológica.
A juventude mostrava a sua força em meio à insatisfação social. Havia ainda o pesadelo da AIDS (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida) que pegaria toda uma geração desprevenida.
Podemos dizer que o grande problema da década de 80 foi, com certeza, a distância econômica e social entre os países desenvolvidos e os do Terceiro Mundo. Graças às desastrosas ditaduras militares que oprimiram o país nos anos 60 e 70, o Brasil sofreu – assim como a maioria dos países latino-americanos – por um modelo de desenvolvimento capitalista desequilibrado, associado ao capital estrangeiro, em que o lucro ficava concentrado nas mãos de poucos privilegiados (Brandão & Duarte, 1993: 105).
Assim, esse modelo econômico de tais governos autoritários, sustentado por empréstimos feitos no exterior, entrou em crise no final dos anos 70. O país se viu diante da sua maior crise econômico-social, mesmo com os primeiros passos para uma abertura política com as eleições para governador a partir de 1982, a elaboração de uma nova Constituição em 1988 e a eleição direta para a presidência da República em 1989, que há 29 anos era reivindicada pelo povo brasileiro, principalmente em 1984 com o movimento popular “Diretas-Já”, em que o povo reivindicava seu direito ao voto (Brandão & Duarte, 1993: 105).

Rodrigues (1992: 13) lembra:

A pressão dos movimentos sociais – greves, sindicatos, organizações de bairro, entidades profissionais – foi fator fundamental para a conquista de abertura, mas não para garantir sua condução realmente democrática.

Rodrigues (1992: 53-54) comenta ainda que, embora na década de 80, a AIDS tenha aparecido como a maior ameaça à saúde dos brasileiros, as piores doenças que afligiram o povo foram as causadas pela fome e pela falta de saneamento básico. Dessa forma, as condições de alimentação, higiene e habilitação estão intimamente ligadas ao índice de mortalidade infantil.
Outro motivo preocupante nos anos 80, além da tuberculose, do sarampo, da lepra e da doença de Chagas apresentarem números alarmantes, era o retorno de doenças transmissíveis pelo mosquito, como a malária. Outro fator também alarmante eram as doenças provenientes de baixas condições de higiene e segurança no trabalho (Rodrigues, 1992: 54).
As grandes capitais apresentam, ainda segundo Rodrigues (1992: 55), contrastes que mostram bem o quadro social alarmante do país: edifícios e automóveis de luxo, favelas e carroças, enfim, abundância e miséria. Todas essas desigualdades, acrescidas da má distribuição de renda num país tão rico em que poucos detêm do poder e dos privilégios, geram violência e caos.
Rodrigues (1992: 55) comenta que grande número de desempregados, subempregados e mesmo os trabalhadores têm de enfrentar problemas diversos como o desemprego, a moradia, os baixos salários, a carestia, os altos aluguéis, a inflação... Dessa forma, muitos são obrigados a viver em lugares precários, como cortiços e favelas, sem falar no grande número de desprivilegiados que acaba indo morar nas ruas.
Muitos moram na periferia, o que causa um excessivo cansaço e o pouco tempo para o descanso após um longo dia de viagem para o trabalho, acarretando acréscimos com gastos com o transporte e alimentação. Assim, muitos acabam não tendo acesso à saúde, à cultura e à educação. O vestuário e o lazer tornam-se cada vez mais raros, ficando a diversão reduzida aos programas de televisão (Rodrigues, 1992: 55).
Esse quadro de baixas condições sócio-econômicas, segundo Rodrigues (1992: 56), reproduz a pobreza e a desigualdade, principalmente entre as crianças e os jovens. Há ainda o grande problema da violência produzida pelo enorme desequilíbrio social.
Nas famílias mais pobres é de onde sai o grande contingente de crianças e jovens de menores abandonados: parte deles acaba cometendo pequenos delitos (os chamados menores infratores); a outra parte ingressa prematuramente no mercado de trabalho, abandonando cedo a escola para ajudar as suas famílias (Rodrigues, 1992: 56).

A música da Legião Urbana e as letras de Renato Russo refletiriam, inseridas no movimento do rock brasileiro anos 80, esse momento conturbado, confuso e de insatisfação no Brasil do século XX, tal como foi com o Romantismo na época da Revolução Industrial no século XIX. Em ambos, um movimento de vanguarda dava voz e vez ao povo, fazia as pessoas expressarem seus sentimentos, interagirem e extravasarem as suas insatisfações.
A Legião Urbana seguiu um caminho de sucesso, uma resposta aos anseios dos jovens, que queriam exprimir o que pensavam sobre a realidade caótica do país, mas não conseguiam. A cada novo álbum aumentava a devoção e o culto à banda e, principalmente, a Renato Russo, que atingia em cheio o público com suas letras confessionais, políticas e espirituais, falando de amor, amizade, ética, política e respeito – uma forma de mostrar a sua aversão aos valores consumistas, corruptos e hipócritas que proliferavam na sociedade.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Monografia "A poética Romântica de Renato Russo" - Renato Russo, o Romântico


V. Renato Russo, o Romântico
Renato Russo foi, definitivamente, um poeta.
Sua trajetória, seu estilo de vida, seus ideais, seus anseios, sua melancolia, sua rebeldia, sua individualidade são dignas de um poeta romântico do século XIX.
Quando perguntado, numa entrevista ao Jô Soares em 1994, se ele se considerava um lírico, Renato foi incisivo em sua resposta: Romântico.
Essa distinção de Renato é importante para analisar o seu trabalho como uma obra influenciada pelas características românticas. Isso porque canções que tratam de amor e de desilusões afetivas logo são caracterizadas como românticas, quando na verdade são canções líricas por retratarem sentimentos amorosos. Renato, ao responder ao Jô Soares, sabia bem a diferença entre ambos, uma vez que ele se referiu ao Romantismo como ideário poético do século XIX para traçar um paralelo com o seu trabalho.
José Emílio Rondeau, produtor do primeiro álbum da Legião Urbana, ficou impressionado quando conheceu Renato Russo no estúdio, não só pela sua voz e pelas suas letras fortes: segundo Rondeau, Renato “parecia um cavaleiro romântico atravessando tempestades e vendavais para chegar no amor” (Dapieve, 2000: 66).
Ele não foi apenas um poeta romântico de uma fase: Renato Russo viveu as três fases do Romantismo em sua poesia, transcritas para o mundo contemporâneo.
Seguindo a idéia do poeta romântico ser um profeta, um reformador, ou como disse Bosi (2006: 95), “o poeta-vate, o gênio portador de verdades, cumpridor de missões”, Renato conquistou milhares de fãs jovens e adultos, com suas letras de ordem, seus temas confessionais, seus discursos nas apresentações ao vivo, o que fez com que o chamassem de profeta, messias, irmão mais velho da juventude brasileira.
Terno e agressivo, alternando momentos de exultação e de profunda melancolia (alguns o chamariam de depressivo), Renato Russo teve uma vida intensa, curta e conturbada, assim como muitos poetas da segunda geração romântica.
Ele era um insatisfeito com a vida do povo, com os problemas do país:

O Brasil é um país que não é uma nação, onde a vítima é ré, e não se respeita mulher, negro e homossexual (1988). (ASSAD, 2000: 40)

A gente não é como esses caras. Eu sou brasileiro! Esses caras não são brasileiros. Polícia que mata criança, traficante... essas pessoas assim são animais. A gente acredita no Brasil. Existem muitas coisas legais. Ficam querendo que a gente seja ladrão, que seja do jeito que eles são. Nós não somos, não (1993). (ASSAD, 2000: 40)

Em sua melancolia entregava-se aos vícios, principalmente calmantes e álcool. Seu estado de espírito sempre oscilava e, nesses momentos de tristeza encontrava forças para compor letras existenciais, intimistas, que expunham seu coração amargurado e suas feridas emocionais.
Parecia viver num mundo que não era o dele, não conseguia se ajustar ao modo de vida da sociedade, assim como os românticos. Sua insatisfação era bem visível em suas letras, como em “O Teatro dos Vampiros”, do quinto álbum, em que depressão, melancolia, falta de afeto e problemas sociais criam um ambiente carregado e triste:

Sempre precisei de um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto
E destes dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos.

(...)

Quando me vi tendo de viver
Comigo apenas e com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei:
Não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber.

Segundo Dapieve (2000: 62),

desde muito jovem, Renato tinha crises de depressão, às vezes associada a uma revolta por assim dizer metafísica. Um dia seu pai foi surpreendido pelo barulho vindo do seu quarto. Lá chegando viu-o jogando pilhas e pilhas de livros no chão, com raiva. “O que houve, filho?”, tentou entender. “Não adianta tudo isso aí, pai, elas não têm respostas para as minhas perguntas”, reclamou.


Em 1984, Renato, então com 24 anos de idade, cortou os pulsos devido a uma desilusão amorosa. Isso porque ele era muito carente e capaz de apaixonar-se e se decepcionar com a mesma facilidade (DAPIEVE, 2000: 61).
Ele ficava também muito deprimido com os problemas sociais, parecia que queria realmente carregar o mundo inteiro nas costas. Sua mãe dizia que ele ficava muito deprimido com imagens de pessoas passando fome na Conchinchina e chegava a brigar com seus pais por vê-los assistindo ao telejornal, uma vez que este só mostrava tragédias e desgraças. Por isso Renato preferia se refugiar em seus livros e cadernos culturais (DAPIEVE, 2000: 62).
Em determinado momento de sua vida chegou a dizer para a sua mãe que não era desse mundo. “Meninos e Meninas”, canção do quarto álbum, “As Quatro Estações”, afirma:

Quero me encontrar, mas não sei onde estou
Vem comigo procurar algum lugar mais calmo
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita
Tenho quase certeza que eu não sou daqui.

Sua insatisfação romântica era bem clara e por isso o desejo de evasão, de fugir de uma cidade grande que não respeita o diferente. Nesse caso, ele fala da sua própria condição de homossexual e todos os preconceitos e hipocrisias existentes na sociedade.
Sua sexualidade não foi segredo para ninguém: com coragem abriu seu coração com sinceridade cativante para o grande público. Sua mãe, no entanto, já sabia de sua homossexualidade desde que o filho tinha 18 anos, quando ele resolveu contar-lhe a verdade (DAPIEVE, 2000: 61).
Suas declarações sempre foram polêmicas, nas apresentações da sua banda ou nas entrevistas concedidas aos meios de comunicação, o que mostra a sua capacidade de usar a palavra e se expressar para o grande público.
Renato Russo descobriu-se portador do HIV em 1990, logo depois de uma grande turnê divulgando o álbum “As Quatro Estações”. Se a vida poderia ser breve, a sua obra seria, com certeza, intensa e produtiva.

Ele comentou várias vezes que era psicótico-maníaco depressivo, por isso alternava momentos em que estava bem e momentos em que estava muito mal. E nessas fases difíceis mergulhava fundo, como já mencionado, nas drogas e, principalmente, no álcool e nos calmantes.
Sobre o álcool, ele comentou:

Bebo porque tem garoto de 15 anos sendo morto pela polícia e menininhas sendo estupradas (1993). (ASSAD, 2000: 24)

Bebia porque sofria; depois, sofria porque bebia. E bebia muito para ser aceito, para que gostassem de mim (1995). (ASSAD, 2000: 25)

Mostrou humildade ao decidir-se ser internado numa clínica para dependentes químicos em Vila Serena, Rio de Janeiro. Lá, descobriu a programação dos doze passos dos Alcoólicos Anônimos e decidiu cuidar da sua saúde. Afinal, ele era muito autodestrutivo e não queria passar uma imagem negativa para o seu filho Giuliano, que na época (1993) tinha apenas quatro anos de idade. Quando saiu de lá, comentou que na clínica eles tentavam devolver a espiritualidade das pessoas (PASSOS, 1995: 26).


Refeito, buscou forças para continuar trabalhando no que ele mais gostava: música, com a Legião Urbana e em dois projetos solo como intérprete (um álbum com sucessos em inglês e outro em italiano).
Dapieve (2000: 154) lembra que Renato teve uma recaída no álcool em 1995 e deu um vexame num vôo na volta de Brasília, aonde tinha ido visitar os pais e o filho (que morava com os avós), para o Rio de Janeiro.
A causa era mais uma desilusão amorosa. Renato, quando se apaixonava, entregava-se de corpo e alma, e ficava muito deprimido quando não dava certo. “Nada é fácil, nada é certo / Não façamos do amor algo desonesto”, cantou ele, já muito cansado e deprimido, em “L’Avventura”, do álbum “A Tempestade”, o último lançado com Renato em vida.
Ele mesmo já havia comentado numa entrevista a Zeca Camargo, em 1993, repórter que na época trabalhava para o canal de televisão MTV (Music Television):

Eu acreditei muito tempo em amor romântico. Hoje em dia eu não acredito em amor romântico, não. Eu acredito em respeito e amizade. De repente, sexo e tudo. Ou, então, expressão física. Mas é assim: respeito e amizade. Porque paixão, essa coisa de amor romântico mesmo, acho que traz muito sofrimento e sempre acaba (1993). (ASSAD, 2000: 27)

Assim, parece certo que a sua depressão ajudou a acelerar os avanços da AIDS, com algumas febres esparsas. Em 1996 a banda entrou em estúdio para gravar aquele que seria o último álbum, “A Tempestade (ou O Livro dos Dias)” – as sobras deste álbum seriam lançadas em 1997 no póstumo e simbólico “Uma Outra Estação” (“estou longe, longe, estou em outra estação”, cantaria Renato neste álbum póstumo, explicitamente um desejo de escapismo para um outro plano, um lugar distante).
Cansado e debilitado pela saúde, sua voz fraquejou nas linhas melódicas mais difíceis, deixando os companheiros Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, muito tristes, pois percebiam que o seu amigo estava morrendo à vista de todos. Outra saída foi restringir o número de profissionais trabalhando no estúdio, uma vez que Renato não estava bem e se mostrava agressivo a um simples cumprimento (Dapieve, 2000: 159).
Gravou apenas a voz-guia (espécie de rascunho para orientar o músico nas gravações) e não refez mais nada: foi para o seu apartamento e deu orientações por telefone de como o álbum deveria sair. Estava muito irritado e brigou muito com seus amigos, pois achava que eles estavam perdendo a intuição.


Enfim, “A Tempestade (ou o Livro dos Dias)” foi lançado em setembro de 1996 e causou estranhamento na crítica e no público: as letras eram amargas e depressivas.
Renato recusou-se a dar entrevistas e os boatos sobre a sua doença aumentavam cada vez mais, embora ele negasse veemente há um bom tempo. Apenas alguns amigos mais próximos e seus familiares sabiam que ele era soropositivo. O grande público manteve-se ignorante do seu real estado até ao fim.
Assim, no dia 11 de outubro de 1996, Renato Russo faleceu em seu apartamento por complicações decorrentes da AIDS, assistido por enfermeiros particulares e o seu pai, que veio de Brasília para ficar com o filho em seus últimos dias de vida.
A respiração, como disse Dapieve (2000: 14), cedera lugar ao mito.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Figuras de Linguagem


No ano passado ajudei uma amiga a encontrar algumas figuras de linguagem na obra da legião Urbana para um trabalho da faculdade. O resultado está logo abaixo:

Antítese (figura de linguagem que consiste na exposição de idéias opostas):
“Já estou cheio de me sentir vazio / Meu corpo é quente e estou sentindo frio” (Baader-Meinhof Blues)
“Mas tão certo quanto o erro se ser barco / A motor (...)” (Daniel na Cova dos Leões)
“Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade” (Sereníssima)
“Sou filho da terra e do céu” (A Fonte)
“A juventude é rica, a juventude é pobre” (Aloha)
“Teu corpo alimenta meu espírito / Teu espírito alegra minha mente / Tua mente descansa meu corpo” (Uma Outra Estação)
“Meu amor, disciplina é liberdade / Compaixão é fortaleza / Ter bondade é ter coragem” (Há Tempos)
– São idéias antitéticas: disciplina geralmente prende alguém a um modelo, a um comportamento restrito, com a intenção de “podar” o ser humano e seus desejos “transgressivos”, mas aqui é colocado como liberdade, pois trata-se de auto-disciplina, no sentido de respeitar o espaço, a identidade e a individualidade do outro; compaixão é sinal de uma pessoa mais fraca e emotiva, aqui é vista como alguém com uma força inabalável; e a bondade parece utópica numa sociedade individualista que apóia a competição, mas aqui é visto como alguém que tem coragem de lutar ajudando os outros.

Metáfora (figura de estilo em que há a subtituição de um termo por outro, criando-se uma dualidade de significado):
“Teu corpo é o meu espelho e em ti navego” (Daniel na Cova dos Leões)
“Somos pássaro novo longe do ninho” (Eu Sei)
“Sou uma gota d’água / sou um grão de areia” (Pais e Filhos)
“Sou metal – raio, relâmpago e trovão / sou metal, eu sou o ouro em seu brasão” (Metal contra as Nuvens)
“Somos pingüim, somos golfinho, / Homem, sereia e beija-flor / Leão, leoa e leão-marinho” (Vamos Fazer um Filme)
“E quando o circo pega fogo / Somos os animais na jaula” (Natália)
“Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher / (..) / Sou Deus, tua Deusa, meu amor” (1º de Julho)
“Eu sou a tua morte / (...) / Eu sou a pátria que lhe esqueceu / o carrasco que lhe torturou / o general que lhe arrancou os olhos / o sangue inocente / de todos os desaparecidos / o choque elétrico e os gritos” (La Maison Dieu)
“Eu sou um pássaro / Me trancam na gaiola” (Clarisse)
O título da canção “As Flores do Mal” é uma metáfora para a letra da canção, que fala sobre tudo de mal que as pessoas fazem com o amor: mentira, traição, cinismo, além de uso de drogas, vida desregrada.

Perífrase (figura de estilo retórico que substitui uma expressão curta e direta por outra mais extensa e carregada de maior ou menor simbolismo):
“Alguma coisa aconteceu / Do ventre nasce um novo coração” – em vez de dizer simplesmente que a pessoa está grávida (1º de julho)

Hipérbole (figura de linguagem que ocorre quando há exagero intencional numa idéia expressa, de modo a acentuar de forma dramática aquilo que se quer dizer, transmitindo uma imagem ampliada do real):
“Me fiz em mil pedaços” (Quase sem Querer)
“Disseste que se tua voz tivesse força igual / À imensa dor que sentes / Teu grito acordaria / Não só a tua casa / Mas a vizinhança inteira” (Há Tempos)
“Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes” (Vinte e Nove)
“Meu amor, se quiseres voltar – volta não / Porque me quebraste em mil pedaços” (Mil Pedaços)
“Se dez batalhões viessem à minha rua / E vinte mil soldados batessem à minha porta” (La Maison Dieu)
“Voamos alto depois das duas” (Marcianos Invadem a Terra)

Eufemismo (figura de estilo que emprega termos mais agradáveis para suavizar uma expressão):
“Quando as estrelas começarem a cair” = Quando o mundo acabar (Angra dos Reis)
“Minha papoula da índia / Minha flor da Tailândia” =
eufemismo para as drogas (A Montanha Mágica)
“Hoje fiquei com febre a tarde inteira” =
eufemismo para os avanços da doença/Aids (A via Láctea)
“E quando eu for embora / Não, não chores por mim”
= eufemismo para a morte (Música Ambiente)

Paradoxo (figura de pensamento que consiste na exposição contraditória de ideias):
“Amor é fogo que arde sem se ver / É ferida que dói e não se sente / é um contentamento descontente / É dor que desatina sem doer” (Monte Castelo)
“és fogo e gelo ao mesmo tempo” (Uma Outra Estação)

Metonímia (figura de linguagem que consiste no emprego de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou a possibilidade de associação entre eles):
“Eu tenho Hanna-Barbera” = Eu tenho desenhos (ou gibis) da Hanna-Barbera (1965 (Duas Tribos))

Clímax ou Gradação (figura de estilo que consiste na apresentação de uma sequência de ideias em andamento crescente):
“Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha” (Clarisse)

Assíndeto (figura de estilo que consiste na omissão das conjunções ou conectivos):
“Será que existe vida em Marte? / Janelas de hotéis / Garagens vazias / Fronteiras / Granadas / Lençóis” (Marcianos Invadem a Terra)

Se alguém encontrar mais algumas figuras de linguagem em outros versos, comente! Pode ser útil para qualquer trabalho de faculdade e até mesmo de ensino médio. Força sempre.

Monografia "A poética Romântica de Renato Russo" - Renato Russo, o Homem e o Artista


IV. Renato Russo, o Homem e o Artista
Renato Russo (com o nome de batismo Renato Manfredini Junior) nasceu no Rio de Janeiro em 27 de março de 1960, mesmo ano em que Brasília, capital do Brasil, foi criada.
Renato viveu com os pais e a irmã na Ilha do Governador até aos 07 anos de idade. Morou nos Estados Unidos entre os 07 e 09 anos de idade e, dali, foi morar em Brasília. Podemos dizer que foi na Capital Federal que tudo mudou em sua vida.
Aos 15 anos, descobriu que tinha uma doença rara (epifisiólise) que destruiu a cartilagem da sua perna (DAPIEVE, 2000: 24). A doença e suas conseqüências fizeram dele um jovem recluso, tímido e introspectivo. Mas ao mesmo tempo propiciou-lhe ler muito, ouvir música e criar em seu imaginário uma banda fictícia de rock’n’roll nomeada de Forty Second Street Band. Neste universo fictício ele criou um alter ego, Eric Russel, louro e bonito, líder e vocalista da banda imaginária. Ele tinha tudo anotado sobre essa banda fictícia: ficha técnica de cada álbum, letras, turnês, discografia...
Quando se recuperou do tratamento e da doença, Renato voltou à vida normal e se sentiu muito diferente, distante, como se não fosse daquele mundo. Comentou, mais tarde, em uma entrevista: “Observava tudo com olhar de estrangeiro” (PASSOS, 1995: 24).
Até que então, Renato – um fã de Beatles, Elvis Presley, Bob Dylan e rock progressivo – descobriu um movimento que iria mudar a sua vida para sempre: o punk rock que estourava na Inglaterra no final dos anos 70, causando polêmica pela energia, pela atitude, pelas roupas rasgadas, alfinetes no rosto, anarquia, letras politizadas que criticavam o sistema vigente. Nesse momento, o rock havia se afastado dos anseios da juventude e seus concertos eram agora apenas um evento caro e pomposo para a elite. Os artistas desse meio andavam de limusine e se distanciavam do povo (DAPIEVE, 2000: 29-30).
Com o punk rock, o poder literalmente voltava às mãos dos jovens proletários (negros e brancos pobres), que agora poderiam mostrar o seu inconformismo através da música.


Renato ficou fascinado com as propostas estéticas do movimento. Assim, ele começou a comprar os discos de punk rock: Sex Pistols, Buzzcocks, The Damned, The Clash, Ramones entre outros. O próximo passo foi montar um grupo de punk rock. Com mais dois amigos, Felipe Lemos e André Pretorius, Renato montou a primeira banda de punk rock de Brasília: Aborto Elétrico.
Dapieve (2000, 25) lembra que foi nessa época que abandonou o sobrenome Manfredini Júnior e adotou o sobrenome Russo, numa homenagem tripla ao filósofo inglês Bertrand Russel, ao filósofo francês Jean Jacques Rousseau e ao pintor francês primitivista Henry Russell.
Interessante é perceber a sua capacidade de catalisador desse movimento, a forma como ele ajudou o movimento a ganhar força na cidade, ganhando adeptos e motivando o surgimento de novos grupos musicais nesse estilo. Dessa forma, Brasília fervilhava de grupos.
O país ainda estava sob a ditadura militar do General Geisel, que governou o país entre 1974 e 1979. Havia, no entanto, um lento processo de abertura política; tal abertura seria testada com essa circulação de idéias (DAPIEVE, 2000: 30-31). Mesmo assim esses jovens sofreram discriminações, represálias e perseguições da policia, mas não deixaram de subverter a ordem, escrever letras de músicas com críticas sociais e organizar eventos em toda a cidade.
O movimento punk em Brasília teve início em 1978. Em 1982 o Aborto Elétrico chegou ao fim, por divergências entre Renato Russo e Felipe Lemos. Mas a semente punk já havia sido lançada em solo brasiliense.
Renato Russo então resolveu fazer apresentações solo apenas com o seu violão, apresentando canções antigas e novas, abrindo as apresentações de outras bandas e se intitulando como “O Trovador Solitário”.

Mas Renato queria mesmo era ter uma banda de rock, e assim formou, juntamente com o baterista Marcelo Bonfá, a Legião Urbana. Depois de algumas formações entraria o guitarrista Dado Villa-Lobos, que – juntamente com Russo e Bonfá – faria parte da formação clássica até ao fim da banda. Renato Rocha, baixista, chegaria a fazer parte da banda até ao terceiro álbum lançado, saindo depois por diferenças de interesse musical.
Renato Russo então seria o líder da banda, cantando e escrevendo as suas letras poéticas.
Mas a Legião Urbana não tinha apenas a influência punk do inicio do movimento brasiliense. O seu som tinha influências do folk, rock inglês, pop e pós-punk (uma ramificação do punk rock, porém mais lento, mais trabalhado, mais melódico e, muitas vezes, mais melancólico).
Com a Legião Urbana, Renato conquistaria o Brasil.
A Legião Urbana foi uma banda tipicamente dos anos 80, mas que atravessou os anos 90, mantendo-se viva e cultuada até aos dias atuais, mesmo com o fim da banda há 12 anos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Monografia "A poética Romântica de Renato Russo" - Introdução


I. Introdução
O objetivo desta monografia é abordar a obra poética de Renato Russo configurada nas letras de suas canções e mostrar que, apesar de inserida no contexto do mundo contemporâneo, a sua obra poética mantém pontos de contato com as características presentes no Romantismo da primeira metade do século XIX.
Nesta abordagem ainda busco mostrar como se dá a releitura ou a reorganização das características românticas nas letras do poeta contemporâneo. Antes da elaboração do objetivo traçado, apresento uma breve visão do Romantismo do século XIX e do Romantismo no Brasil.

Monografia "A poética Romântica de Renato Russo" - Resumo


Resumo
Com esta monografia pretendo mostrar a importância do Romantismo não apenas como um estilo literário preso a uma época específica, o século XIX, mas como referência para a arte contemporânea. Assim, será analisada a obra poética de Renato Russo, líder da banda de rock’n’roll brasileira Legião Urbana e considerado um profeta para a juventude com suas letras confessionais e politizadas. Tal análise, entretanto, será feita a partir dos ideais do Romantismo para mostrar que Renato Russo utilizou suas características e suas três fases (Indianismo Nacionalista, Mal do Século ou Ultra-Romantismo e Crítica Social ou Condoreirismo) dentro do contexto sócio-político de seu tempo, o século XX, no fim da ditadura militar, início dos anos 80 e chegando aos anos 90. Para este trabalho utilizei livros de teóricos da Literatura Brasileira e livros específicos sobre a vida, os pensamentos, as idéias e a análise das letras de Renato Russo, que me ajudaram a fazer o paralelo entre a temática romântica e a poética do poeta contemporâneo.

Palavras-chave: Renato Russo, Legião Urbana, Romantismo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A Poética Romântica de Renato Russo


Sempre pensei em fazer uma grande homenagem à Legião Urbana.

Quando entrei na no curso de Letras, na Universidade Severino Sombra, em 2006, uma idéia começou a tomar forma em minha mente: a minha monografia teria que ser sobre Renato & Legião.

Assim, aproveitando todo o material de Literatura na fase do Romantismo no Brasil e todo material da Legião Urbana (livros e reportagens diversas), elevei as letras poéticas de Renato Russo à importância da Literatura Brasileira, fazendo uma comparação minuciosa das características do movimento romântico com a obra legionária, mostrando que havia uma profunda ligação entre eles, sem deixar passar despercebido o contexto histórico em que cada um estava inserido.

Os professores universitários (alguns conheciam, outros jamais tinham ouvido falar do nosso poeta) ficaram impressionados com o meu trabalho, com a vida e a obra intensas de Renato. A monografia ficou enorme, pois fiz uma análise das principais características românticas e das três fases do Romantismo. Apresentei a monografia em slides para a banca examinadora no dia 01/12/2008 e para as turmas dos períodos anteriores; ficou tudo muito interessante e me valeu um 10,0! Como pode ser visto na foto, eu fui à apresentação vestido à caráter, com uma camisa da Legião!

Pronto! Concluí meu curso com chave de ouro e levei o nome do nosso poeta para a área acadêmica. Cumpri meu objetivo de homenagear aquele que me ajudou na juventude e até os dias de hoje está presente em minha vida através de suas canções. Ele merecia isso de mim.

Agora, pretendo colocar aqui nesse blog algumas partes da minha monografia (A POÉTICA ROMÂNTICA DE RENATO RUSSO, este é o título) para quem quiser ler e comentar.

Para os que gostam de música e Literatura será uma boa leitura, com certeza.

Mensagens e antíteses em "Há Tempos"


Uma das grandes canções da Legião Urbana é Há Tempos. O Renato estava muito inspirado nesta época, assim como toda a banda.

Segundo ele, a letra foi composta em três meses. Era um período em que Renato estava sem inspiração para compor; por isso o disco AS QUATRO ESTAÇÕES demorou literalmente quatro estações para ser concebido e lançado.

E Renato conseguiu compor uma obra-prima, que fala do espiritual e dos problemas pessoais e sociais que o afligiam.

A parte da canção que mais me chama a atenção e de que mais gosto é:

Meu amor, disciplina é liberdade
Compaixão é fortaleza
Ter bondade é ter coragem.

É importante perceber que Renato colocou palavras que, aparentemente, são opostas. Na verdade, em “disciplina é liberdade” o Renato estava falando de autodisciplina, não de disciplinar o outro. Ele mesmo comentou numa entrevista para a revista Bizz em 1990, quando perguntado sobre esse verso: "É claro que não é fascista! Eu estou falando de autodisciplina". Acredito que, se você tem uma autodisciplina, você vai aprender a respeitar o outro, a conviver com o outro, a cuidar do meio ambiente, a saber que existem limites e nem tudo lhe é permitido fazer. Se os políticos, por exemplo, tivessem uma autodisciplina, com certeza venceriam a tentação de roubar o dinheiro público e fomentar a corrupção.

O mesmo acontece com o verso “Compaixão é fortaleza”: aparentemente, quem tem compaixão pelos outros, em nossa sociedade, é considerada uma pessoa fraca, uma vez que é cada um por si; a lei do mais forte predomina à nossa volta e muitas vezes temos que nosa adequar a esse estilo de vida individualista. Renato já pensa diferente: ter compaixão torna uma pessoa forte, virtuosa, espiritual.

“Ter bondade é ter coragem” segue a mesma idéia anterior. Bondade é para os corajosos, para aqueles que não pensam somente em si e lutam por uma sociedade mais justa e igualitária.

Por tudo isso, Há Tempos é uma canção melancólica, forte, bela, com uma mensagem importante para todos nós.