terça-feira, 29 de março de 2011

Parabéns ao Poeta

Por conta de alguns compromissos que me afastaram da internet, quero apenas registrar no blog o aniversário de 51 anos de Renato Russo no dia 27 de março, o nosso poeta que partiu cedo demais, em 11 de outubro de 1996.
Partiu, mas permancece vivo em nosso meio graças à força de sua poesia e às melodias maravilhosas da Legião Urbana. é incrível como várias gerações ainda ouvem Legião e como toda a obra da banda permanece em catálogo.
Brasileiro tem fama de só gostar de porcaria na música (funk, pagode, axé etc), mas é legal perceber como isso não é verdade. Quantas pessoas ainda ouvem Legião até hoje e se emociona! E mais: levam as canções para as gerações atuais, para jovens que nem estavam vivos quando a Legião nasceu em Brasília e gravou seu 1º álbum em 1984.
Esta é a força e a magia da banda.
Por isso, só tenho a agradecer ao Renato Russo e sua adorável Legião Urbana por nos proporcionar tantas canções e tantas mensagens, falando de amor, ética, amizade, espiritualidade, política, questões sociais, enfim, todo o universo dos jovens (e adultos) urbanos.
Foi-se cedo demais o nosso poeta, mas o seu legado o faz vivo para sempre! E enquanto houver fãs legionários, sempre haverá a Legião Urbana e sempre poderemos comemorar esse dia tão especial: a vida de um jovem que tentou falar a língua dos homens e agora fala a dos anjos.

Parabéns, Renato Russo! Força sempre!

sábado, 19 de março de 2011

Legião Urbana no Jô Soares 11 e meia (1994)


Eu havia perdido o programa. No dia seguinte a essa participação, um colega de colégio veio me perguntar (sabendo que eu era um legionário) se eu havia visto a Legião Urbana no Jô Soares (no SBT). Não acreditei que eu havia perdido! Era um tempo que não existia internet e, se você perdesse algum especial, algum show, algum filme, deveria pedir aos céus para que repetisse na TV. Havia o vídeo-cassete, mas era muito difícil você encontrar alguém que tivesse gravado algo interessante. Hoje em dia está tudo na internet, principalmente no youtube. E foi lá que eu finalmente vi (16 anos depois) o programa completo, em três partes. O vídeo está aqui, veja e comente:


sábado, 12 de março de 2011

Minhas primeiras impressões de A TEMPESTADE (parte II)


A próxima canção, "Dezesseis", é um rock enérgico, com guitarrras pesaddas e uma bateria muito forte. é mais daquelas historinhas que o Renato sempre gostou de contar, dessa vez sobre um jovem de dezessseis anos chamado João Roberto, mais conhecido como Johnny, super gente boa, fã de Janis Joplin, do Led Zeppelin, dos Beatles e dos Roling Stones. Ele tinha um opala metálico azul e morre (ou se suicida?) num pega de carros nas ruas de Brasília, coisa típica do herói romântico, uma vez que "o que dizem é que foi tudo por causa de um coração partido / Um coração". O final ("Um coração / Bye bye Johnny / Johnny bye bye / Bye bye Johnny") vai se repetindo pelos três legionários e pelo Carlos Trilha de forma bem legal e a canção vai perdendo sua velocidade e peso, o que ganharia um 'grand finale' com a paricipação dos fãs nas apresentações ao vivo da Legião. Pena que isso não chegou a acontecer, infelizmente.

"Mil Pedaços" é a balada folk do disco. o renato canta com muita dor e pesar coisas como "Eu não me perdi / E mesmo assim você me abandonou / Você quis partir / E agora estou sozinho / Mas vou me acostumar / Com o silêncio em casa / Com um prato só na mesa". É mais uma experiência amorosa do poeta que não deu certo em sua vida e o 'ajudou' em sua depressão.
"Leila" é um rockinho básico que conta mais uma historinha, desta vez uma homenagem a uma amiga: mulher forte, independente, dona de casa, trabalhadora, mãe, solteira, pós-moderna. Pela primeira vez no disco - e acho que a única - Renato se deixa conduzir pela tranquilidade ao falar dessa mulher ("Adoro os teus cabelos / Adoro a tua voz / Adoro teu estilo / Adoro tua paz de espírito") e você percebe um leve sorrisinho de soslaio, como se Renato dissesse: "Estou bem, estou numa boa, não dê atenção ao que eu disse". Ele chega realmente a se descontrair e até diz na letra: "E você diz daquele seu jeito: - Ai, preciso de um homem / E eu digo: - Ah, Leila! Eu também / E a gente ri". Um bom-humor difícil de se encontrar no resto do disco.

Em seguida temos "1º de Julho", que já havia sido gravada pela Cássia Eller. É mais uma homenagem às mulheres, em especial à cantora já citada. É um manifesto pró-emancipação feminista, como bem mostra o refrão dessa canção acústica, que também dá um pouco de alívio ao fã que se sente incomodado com o clima soturno do álbum: "Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher / Sou minha mãe, minha filha, minha irmã, minha menina / Mas sou minha, só minha e não de quem quiser / Sou Deus, tua Deusa, meu amor." Não é uma das minhas preferidas do disco, mas ajuda a criar um crima mais 'pra cima' diante da tempestade cinza que passava pela vida de Renato e se deixava transparecer nas letras.
"Esperando por Mim" é uma das minhas favoritas. Quando eu ouvi...meu Deus, o que é isso? O REanto estava ali, frágil, reclamando de slidão e tentando dizer que família e amigos verdadeiros são as coisas mais importantes de sua vida e com quem ele pode sempre contar. É uma relexão profunda sobre os dias difíceis que passavam em sua vida, e ainda assim Renato buscava a serenidade. Ouço sempre esse disco, e essa canção é marcante já pelo início, com a bateria e o violão bem marcantes, bem típicos da Legião: "Acho que você não percebeu / Que o meu sorriso era sincero / Sou tão cínico às vezes / O tempo todo / Estou tentando me defender / Digam o que disserem / O mal do século é a solidão / Cada um de nós imerso em sua prórpia arrogância / Esperando por um pouco de atenção". No fim, com a repetição de que seu pai, sua mãe, seus verdadeiros amigos e seu filho esperam por ele, entra uma guitarra linda, emocionante, como se sublinhasse todo o sentimento do Renato. Po fim, o poeta diz: "Estamos vivendo / E o que disserem / Os nossos dias serão para sempre". Linda letra, linda música.

"Quando Você Voltar" é acústica, lenta, linda, com uma letra triste relatando mais um desentendimento amoroso: "Vai, se você precisa ir / Não quero mais brigar esta noite", com um fim confortador, embora igualmente doloroso, marcado pela perda: "Meu amor, cuidado na estrada / E quando você voltar / Tranque o portão, Feche as janelas / Apague a luz / E saiba que te amo".
E quando sentia meu coração cada vez mais apertado, a derradeira canção, "O Livro dos Dias", me derrubou de vez. Mais uma vez, devido a sequência final "Esperando por Mim"/"Quando Você Voltar"/"O Livro dos Dias", não aguentei e chorei. Era a despedida de Renato, em versos belos e sombrios. É a letra mais enigmática do poeta, em que parece discorrer sobre perda, destino, solidão, o mundo caótico, a finitude da vida. Enfim, essa se tornou a minha canção preferida não só do disco, mas de toda a obra legionária. Pena que pouca gente ouviu... O instrumental é perfeito, bem ao estilo rock inglês, com uma bateria solo inicial, entrando um teclado climático, um violão e, por fim, uma guitarra arrebatadora, como se Johnny Marr (ex-The Smiths) tivesse sido convidado a participar do disco. A letra de "O Livro dos Dias" merece ser transcrita na íntegra, de tão bela e enigmática:

Ausente o encanto antes cultivado
Percebo o mecanismo indiferente
Que teima em resgatar sem confiança
A essência do delito então sagrado
Meu coração não quer deixar
Meu corpo descansar
E teu desejo inverso é velho amigo
Já que o tenho sempre a meu lado
Hoje então aceitas pelo nome
O que perfeito entregas mas é tarde
Só daria certo aos dois que tentam
Se ainda embriagado pela fome
Exatos teu perdão e tua idade
O indulto a ti tomasse como bênção
Não esconda tristeza de mim
Todos se afastam quando o mundo está errado
Quando o que temos é um catálogo de erros
Quando precisamos de carinho
Força e cuidado
Este é o livro das flores
Este é o livro do destino
Este é o livro de nossos dias
Este é o dia de nossos amores

E tudo sendo cantada com uma voz triste que vem lá do fundo, como se ele abrisse o seu coração e expusesse os seus demônios.
E assim foi minha primeira audição desse álbum tão belo e triste, um dos meus preferidos da banda. Gostaria que as pessoas também comentassem o que acham desse disco.

Interessante é que o lema da banda (Urbana Legio Omnia Vincit) e a frase "Força sempre" não aparecem no disco. Alguns mórbidos dizem que esse é o único disco em que o lema e a frase não aparecem. Mentira: Não há também em "As Quatro Estações" e em "V", podem procurar! No encarte do Lp "Legião Urbana" (o 1º disco), temos o lema, mas não temos a frase "força sempre". O mesmo acontece com o cd relançado agora em digipack. O cd remasterizado em 1995 não aparece nem o lema e nem a frase. Em "Que País é Este", em "Música p/ Acampamentos" e em "O Descobrimento do Brasil" só temos o lema, nada de "força sempre".

Enfim, são apenas pequenos detalhes para os fãs mais curiosos. Inclusive vi gente dizendo-se muito fã aparecendo em programas na TV só para abrir a boca e dizer que só "A Tempestade" não tinha "força sempre" e nem o lema. Um erro e uma falta de informação (ou melhor, de atenção, pois é só olhar os encartes) que não podemos cometer assim.


Ouçam "A Tempestade" e percebam a força das letras e dos instrumentais, embora a voz do poeta demostre sinais de cansaço (detalhe: o que ouvimos é uma espécie de rasunho, pois Russo gravou apenas as vozes-guia e resolveu não voltar ao estúdio para gravar as vozes definitivas. Isso cria ainda mais um clima de despedida de Renato e, ao mesmo tempo, o álbum ganha o título de clássico, pois é o último canto do poeta. Vale a pena ainda conferir "A Tempestade" finalmente em Lp duplo, lançado nesse formato em 2010, assim como toda a obra relançada em Lp e em cd digipack.

Força sempre.


Abaixo, vídeo do youtube com comerciais de alguns álbuns e shows da Legião. Entre eles, vale a pena conferir a propaganda de "A Tempestade".


sexta-feira, 11 de março de 2011

Minhas primeiras impressões de A TEMPESTADE (parte I)


Em dezembro de 1996, após a tempestade que devastou o rock nacional e os corações de milhares de legionários que cresceram ouvindo Legião Urbana, finalmente comprei A TEMPESTADE OU O LIVRO DOS DIAS, disco-testamento do poeta Renato Russo, que lançou junto com Dado e Bonfá na chegada da primavera daquele ano e veio a partir menos de um mês depois, em 11 de outubro de 1996.
Ouvir o disco após a partida de Renato me fez sentir a consciência da dor, da certeza pragmática do fim triste e solitário dinate de um mundo feroz. A fúria do mundo, cantada a plenos pulmões durante toda a sua vida artística, acabou consumindo o poeta, fazendo-o silenciar. Para alguém tão sensível como ele, esse mundo louco era pesado demais.
Quando comprei o cd, o formato de livrinho já havia saído das lojas, ficando o modelo cd comum (mais tarde consegui com um amigo o 1º formato). A capa azul é triste, os carimbos de flores em tons azuis também é triste. O encarte é triste. A foto da banda é triste. A epígrafe (citação de Oswald de Andrade) é triste. As músicas são tristes. As letras, claro, são tristes. Muito tristes.
O cd abre com a profética "Natália", um rock pesado que inicia com os versos: "Vamos falar de pesticidas / E de tragédias radioativas / De doenças incuráveis / Vamos falar de sua vida". A letra fala ainda de hipocrisia, de solidão e, quando tudo parece perdido, há uma esperança, uma luz cinza no fim do túnel e Renato parece querer se agarrar a ela, mesmo diante do seu desespero: "Quando tudo é solidão / É preciso acreditar num novo dia / Na nossa grande geração perdida / Nos meninos e meninas / Nos trevos de quatro folhas / A escuridão ainda é pior / Que essa luz cinza / Mas estamos vivos ainda". O refrão é cantado com a ajuda dos backing vocals de Dado e Bonfá: "E quem sabe um dia eu escrevo uma canção pra você".
Respirei muito: já era muita coisa, e ainda era apenas a música de abertura; ainda havia muito para se ouvir.
Em seguida, uma das coisas mais tristes que Renato escreveu: "L'Avventura". Guitarrinha estilo rock inglês, bateria bem insteressante, teclados melancólicos (Carlos Trilha tocos todos os teclados do cd), com um letra linda e triste: "Qaundo não há compaixão / Ou mesmo um gesto de ajuda / O que pensar da vida / E daqueles que sabemos que amamos? / (...) / Seu olhar não conta mais estórias / Não brota o fruto e nem a flor / E nem o céu é belo e prateado / E o que eu era eu não sei mais / E não tenho nada pra lembrar / (...) / E eu sei por que você fugiu / Mas não consigo entender". E tudo com uma voz que sai lá do fundo, triste, resignada, emocionada.
A próxima canção ("Música de Trabalho") é uma das bandeiras da banda: a defesa às classes menos favorecidas. Aqui, como em "Fábrica", temos a voz do trabalhador pobre e explorado. A letra denuncia: "Sei que existe injustiça / Eu sei o que acontece / Tenho medo da polícia / Eu sei o que acontece". Guitarras pesadas dão um clima de crítica social à canção, que termina de forma intista: "E quando chega o fim do dia / Eu só penso em descansar / E voltar pra casa, pros teus braços / (...)".
"Longe do Meu Lado" entra em seguida... para me fazer chorar pela 1ª vez. Dor, melancolia, uma letra soturna declamada por um vocal dolorido, que expunha o estado de espírito de Renato. Só voz, teclados e um rhythm track discreto. "Se a paixão fosse realmente um bálsamo / O mundo não pareceria tão equivocado / (...) / A paixão já passou em minha vida / Foi até bom mas ao final deu tudo errado / E agora carrego em mm / Uma dor triste, um coração equivocado / (...) / A paixão quer sangue e corações arruinados / E saudade é só mágoa por ter sido / Feito tanto estrago / E essa escravidão e essa dor não quero mais / (...) / Eu também sei que dizem / Que não existe amor errado / Mas entenda, não quero estar apaixonado". Muito triste.
E quando nada pode ser mais triste, entra "A Via Láctea", canção que havia invadido as rádios antes do lançamento do cd, com um vocal comovente e um instrumental melancólico. A canção já começa assim: Quando tudo está perdido / Sempre existe um caminho / Quando tudo está perdido / Sempre existe uma luz / Mas não me diga isso / Hoje a tristeza não é passageira / Hoje fiquei com febre a tarde inteira / E quando chegar a noite / Cada estrela parecerá uma lágrima". Renato dava seus recados, mostrava que a doença já avançava consideravelmente. A tristeza imergia em seu espírito: "Eu nem sei por que  me sinto assim / Vem de repente um anjo triste perto de mim". O recado para os fãs: "Não me dê atenção / Mas obrigado por pensar em mim". A minha tristeza aumentava cada vez mais, ainda mais quando, nos final da canção, aumentando o volume, podia-se ouvir a respiração ofegante de Renato ao final de cada verso.
Em seguida, a batida moderna de "Música Ambiente" dava um certo alívio, mas a letra falava de despedida, de mais um encontro que não deu certo. Mais um recado: "E quando eu for embora / Não, não chore por mim".
"Aloha", um hino da juventude, bem ao gosto da Legião, bem que poderia ter sido a música de trabalho do disco: essa é bem Legião: baixo, guitarra, bateriae violão se destacam, é aquele rock legionário que pode ser reconhecido desde o 1º acorde: "Ei, isso parece Legião", qulaquer um que não conhece pode dizer quando ouve sua introdução. A letra se coloca em favor da juventude, tantas vezes controlada e alienada por interesses daqueles que querem os jovens de boca fechada, sem pensar e reivindicar: "Será que ninguém vê o caos em que vivemos / Os jovens são tão jovens e fica tudo por isso mesmo / A juventude é rica, a juventude é pobre / A juventude sofre e ninguém parece perceber / (...) / Todo adulto tem inveja dos mais jovens / (...) / E meus amigos parecem ter medo / De quem fala o que sentiu / De quem pensa diferente / Nos querem todos iguais / Assim é bem mais fácil nos controlar / E mentir mentir mentir / E matar matar matar / O que eu tenho de melhor: minha esperança / (...)". Excelente canção, que faz esquecer um pouco a tristeza que permeia o álbum.
"Soul Parsifal" tem uma levada bem pop em que Marisa Monte assina a autoria da canção junto com o poeta, com uma letra em que Renato fala sobre sua vida, sua individualidade: "Ninguém vai me dizer oq ue sentir / Meu coração está disperso / (...) / Estive cansado / Meu orgulho me deixou cansado / Meu egoísmo me deixou cansado / Minha vaidade me deixou cansado / Não falo pelos outros / Só falo por mim / (...)".

Bom, amanhã continuo falando sobre as minhas primeiras impressões de A TEMPESTADE. 

sexta-feira, 4 de março de 2011

A Tempestade Ou O Livro dos Dias


Setembro de 2011 fará 15 anos que A TEMPESTADE (OU O LIVRO DOS DIAS) foi lançado.
Ouvi esse álbum apenas quando o Renato partiu. E tudo ficou ainda mais triste. A gente nunca espera que nossos ídolos um dia morrerão. Mesmo tendo ouvido a canção A VIA LÁCTEA várias vezes nas rádios, a tristeza de Renato me pareceu coerente com a nossa realidade, com o ser humano cada vez mais individualista e frio diante das mazelas e das tragédias do cotidiano ("Queria ser como os outros / E rir das desgraças da vida / Ou fingir estar sempre bem / Ver a leveza das coisas com humor / Mas não me diga isso"). O disco V já trazia uma tristeza bem profunda, ao falar da crise do país na Era Collor e dos problemas de Russo com a heroína, além de desilusões amororsas que doem fundo na alma.
Mas, mesmo com a epígrafe de A TEMPESTADE ("O Brasil é uma República Federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus" - Oswald de Andrade), nunca veria o álbum como a iminência da morte, como uma despedida. Mas ouvindo-o na íntegra após a sua morte (só fui comprar o álbum em dezembro de 1996, por falta de dinheiro), percebi a dor de Renato, o seu desespero que as canções tentavam traduzir. Logo contarei as minhas impressões sobre esse álbum, que é um dos meus preferidos.

terça-feira, 1 de março de 2011

DOIS - um clássico da Legião Urbana


Quando ouvi Legião Urbana DOIS pela primeira vez, lembro que fiquei extasiado.
A começar pela capa, de uma simplicidade comovente. Nada de fotos, nada de colorido.
Iniciando o LP (sim, na época em que eu ouvi, era um tempo de LPs, não existia ainda CD), ouvi alguns ruídos estranhos e, no meio disso, os versos de SERÁ: "Brigar pra que / Se é sem querer".
Aí, os acordes iniciais de DANIEL NA COVA DOS LEÕES se faziam ouvir. Guitarras melódicas e bem elaboradas, bateria e baixo com ecos do pós-punk inglês, teclados criando um clima épico. A letra confunde: paradoxos, metáforas. Só depois fui saber que se tratava de homossexualidade, sobre alguém que está 'nadando contra a correnteza' da sociedade: "Mas tão certo quanto o erro de ser barco / A motor e insistir em usar os remos".

QUASE SEM QUERER busca ser otimista em sua letra, tentando conviver com as dúvidas e buscando afirmar sua individualidade. Apesar disso, vemos claramente o desepero do eu lírico: ele busca o conforto e a segurança para o que sente na pessoa amada. Muitos violões aparecem na canção, mostrando um caminho que seria muito aproveitado pela banda, que iria se definir mais tarde como uma banda folk que trabalha dentro do rock.
ACRILIC ON CANVAS é uma das minhas preferidas: uma balada pós-punk básica, com efeitos, poesia e muito lirismo. Uma das melhores baladas da Legião.
EDURADO E MONICA é a primeira históra de Renato a entrar em um disco. Uma comédia romântica que se tornou um clásico  e tem tudo para virar um roteiro de cinema. Um dos clássicos do disco. Quando eu era garoto (com meus treze anos, ficava repetindo essa faixa toda hora para tentar decorar a letra).
CENTRAL DO BRASIL é um instrumental acústico, que prepara o ouvinte para o grande clássico do disco: TEMPO PERDIDO. Música e letra perfeitas! Fala sobre o carpe diem, sobre aproveitar o tempo, fazendo o melhor possível a cada dia, porque "somos tão jovens". É o fim do lado 1 do LP.
O lado 2 começa com METRÓPOLE. Punk rock pesado e agressivo com letra irônica que revela o desejo sádico e a indiferença da sociedade pelas tragédias alheias. Acho que essa canção é uma das poucas que têm ligação com o 1º disco.
PLANTAS EMBAIXO DO AQUÁRIO é um pós-punk básico com efeitos e com a repetição do refrão pelos membros da banda: "Não deixe a guerra começar". No meio disso tudo ainda vemos várias vozes conflitantes em várias línguas.
MÚSICA URBANA 2 é o Renato em voz e violão. Letra hipnotizante, vocal sujo e grave cantando a cidade e suas sujeiras cotidianas.
Em seguida, violões e guitarras - aliadas ao baixo, à bateria e a um dos poemas mais belos de Russo - criam um dos momentos mais melódicos do álbum, ANDREA DORIA, fazendo com certeza chorar os mais sensíveis. Veja a beleza desse versos: "Às vezes parecia que de tanto acreditar / Em tudo o que achávamos tão certo / Teriamos o mundo inteiro e até um pouco mais: / Faríamos floresta do deserto / E diamantes de pedaços de vidro. (...) Não queria te ver assim / Quero a tua força como era antes (...) / Eu sei, é tudo sem sentido / Quero ter alguém com quem conversar / Alguém que depois não use o que eu disse / Contra mim. / (...)".
Quando eu ainda me recuperava pelo choque poético que a canção me causou, vem FÁBRICA, punk, socialista, ecológica, cantada por um eu lírico operário que pede por justiça e trabalho honesto. Uma bandeira em prol classes trabalhadoras exploradas.
Aí eu pensava que nada mais poderia vir que me causasse algum impacto. Engano meu. O fim seria apoteótico: "ÍNDIOS". Lirismo, beleza, poesia, melancolia. Teclados criam um clima pungente, no mais, um violão, um baixo e uma bateria ajudam a dar vida à canção, que termina com os versos: "Nos deram espelhos e vimos um mundo doente / Tentei chorar e não consegui".
DOIS é um disco para se descobrir coisas novas a cada audição: um verso, um acorde, uma melodia, um riff de guitarra, os violões marcantes. Questões sociais e amorosas, mas tudo passando pelo prima emotivo, sem o grito e a explosão do 1º disco.
O melhor disco lançado nos anos 80, sem dúvida.
Abaixo estão os vídeos do Youtube, retirados do programa "Discoteca MTV", com um especial sobre esse álbum. Vale a pena conferir.