sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cedo demais...

Onze de outubro de 1996.

Era um dia de sol. Acordei um pouco triste. Tudo que eu via me deixava melancólico.

Eu já morava em Vassouras (sou carioca), e precisei ir ao Rio naquela semana para resolver minhas pendências com o serviço militar (graças a Deus conseguira ser dispensado por excesso de contingente). Por isso estava lá, na casa de uma família amiga, e me arrumava para voltar para Vassouras.

No trem, eu me sentia muito estranho, triste, parecia que algo havia acontecido. Quando desembarquei em Paracambi, passei perto de um bar e ouvi, no rádio, alguém falando de Renato Russo e logo em seguida tocou uma canção em italiano. Senti um aperto no coração, não sabia o motivo. Depois peguei o ônibus que faz a linha Paracambi-Vassouras e a viagem de pouco mais de uma hora me deixou melancólico. Cheguei a Vassouras aproximadamente às 14 horas. Saí do ônibus e me encaminhei para minha casa. A cidade, o meu bairro pareciam um grande deserto. Não me encontrei com ninguém, eu parecia o único sobrevivente de Vassouras a andar pelas ruas. Senti medo, apreensão; meu coração, não sabia por que, batia acelerado, angustiado...

Entrei em casa correndo, e só havia silêncio. Encontrei minha mãe em outro cômodo e perguntei, olhando para o seu rosto de preocupação: “Mãe, o que aconteceu?”

Ela olhou para mim com tristeza e me perguntou se eu ainda não sabia o que havia acontecido. E eu: “O que aconteceu, mãe?”

“O Renato Russo morreu nesta madrugada”, disse ela com uma tristeza dupla: primeiro porque ela aprendera a gostar do meu ídolo graças à minha paixão pela banda, e, de tanto ouvir Legião em casa, ela acabou gostando de várias canções. A outra tristeza foi por já saber qual seria a minha reação pelo impacto daquela trágica notícia.

Parecia um pesadelo. Olhei para minha mãe, incrédulo. Tentei dizer que era mentira, um engano, qualquer coisa. Mas não era engano, ele havia morrido, havia partido cedo demais, deixando milhares de fãs órfãos: legionários que adotaram as palavras do líder da Legião Urbana como filosofia de vida, como um alento diante da fúria do mundo.

Para mim, o mundo acabaria naquele momento. Senti uma dor tão grande... As lágrimas e o choro desesperado saiam sem cessar. Corri para o quarto e chorei sufocado no travesseiro. Minha mãe foi me consolar e só me ouvia dizer aos soluços: “Eu quero morrer!...”

Passei toda aquela tarde, noite e os dias seguintes chorando... “O pra sempre sempre acaba”, o Renato mesmo já havia alertado. Mas a gente nunca espera que seja tão rápido assim. Mas “os bons morrem jovens”, era outra verdade dita pelo Renato.

Assim, senti a maior dor da perda desde a morte do meu pai. Senti-me gota d'água, grão de areia.

O meu ídolo havia partido... Deixando assim suas canções, suas palavras eternizadas em cada obra registrada pela Legião Urbana. O homem morreu. Nasceu o mito.