terça-feira, 1 de março de 2011

DOIS - um clássico da Legião Urbana


Quando ouvi Legião Urbana DOIS pela primeira vez, lembro que fiquei extasiado.
A começar pela capa, de uma simplicidade comovente. Nada de fotos, nada de colorido.
Iniciando o LP (sim, na época em que eu ouvi, era um tempo de LPs, não existia ainda CD), ouvi alguns ruídos estranhos e, no meio disso, os versos de SERÁ: "Brigar pra que / Se é sem querer".
Aí, os acordes iniciais de DANIEL NA COVA DOS LEÕES se faziam ouvir. Guitarras melódicas e bem elaboradas, bateria e baixo com ecos do pós-punk inglês, teclados criando um clima épico. A letra confunde: paradoxos, metáforas. Só depois fui saber que se tratava de homossexualidade, sobre alguém que está 'nadando contra a correnteza' da sociedade: "Mas tão certo quanto o erro de ser barco / A motor e insistir em usar os remos".

QUASE SEM QUERER busca ser otimista em sua letra, tentando conviver com as dúvidas e buscando afirmar sua individualidade. Apesar disso, vemos claramente o desepero do eu lírico: ele busca o conforto e a segurança para o que sente na pessoa amada. Muitos violões aparecem na canção, mostrando um caminho que seria muito aproveitado pela banda, que iria se definir mais tarde como uma banda folk que trabalha dentro do rock.
ACRILIC ON CANVAS é uma das minhas preferidas: uma balada pós-punk básica, com efeitos, poesia e muito lirismo. Uma das melhores baladas da Legião.
EDURADO E MONICA é a primeira históra de Renato a entrar em um disco. Uma comédia romântica que se tornou um clásico  e tem tudo para virar um roteiro de cinema. Um dos clássicos do disco. Quando eu era garoto (com meus treze anos, ficava repetindo essa faixa toda hora para tentar decorar a letra).
CENTRAL DO BRASIL é um instrumental acústico, que prepara o ouvinte para o grande clássico do disco: TEMPO PERDIDO. Música e letra perfeitas! Fala sobre o carpe diem, sobre aproveitar o tempo, fazendo o melhor possível a cada dia, porque "somos tão jovens". É o fim do lado 1 do LP.
O lado 2 começa com METRÓPOLE. Punk rock pesado e agressivo com letra irônica que revela o desejo sádico e a indiferença da sociedade pelas tragédias alheias. Acho que essa canção é uma das poucas que têm ligação com o 1º disco.
PLANTAS EMBAIXO DO AQUÁRIO é um pós-punk básico com efeitos e com a repetição do refrão pelos membros da banda: "Não deixe a guerra começar". No meio disso tudo ainda vemos várias vozes conflitantes em várias línguas.
MÚSICA URBANA 2 é o Renato em voz e violão. Letra hipnotizante, vocal sujo e grave cantando a cidade e suas sujeiras cotidianas.
Em seguida, violões e guitarras - aliadas ao baixo, à bateria e a um dos poemas mais belos de Russo - criam um dos momentos mais melódicos do álbum, ANDREA DORIA, fazendo com certeza chorar os mais sensíveis. Veja a beleza desse versos: "Às vezes parecia que de tanto acreditar / Em tudo o que achávamos tão certo / Teriamos o mundo inteiro e até um pouco mais: / Faríamos floresta do deserto / E diamantes de pedaços de vidro. (...) Não queria te ver assim / Quero a tua força como era antes (...) / Eu sei, é tudo sem sentido / Quero ter alguém com quem conversar / Alguém que depois não use o que eu disse / Contra mim. / (...)".
Quando eu ainda me recuperava pelo choque poético que a canção me causou, vem FÁBRICA, punk, socialista, ecológica, cantada por um eu lírico operário que pede por justiça e trabalho honesto. Uma bandeira em prol classes trabalhadoras exploradas.
Aí eu pensava que nada mais poderia vir que me causasse algum impacto. Engano meu. O fim seria apoteótico: "ÍNDIOS". Lirismo, beleza, poesia, melancolia. Teclados criam um clima pungente, no mais, um violão, um baixo e uma bateria ajudam a dar vida à canção, que termina com os versos: "Nos deram espelhos e vimos um mundo doente / Tentei chorar e não consegui".
DOIS é um disco para se descobrir coisas novas a cada audição: um verso, um acorde, uma melodia, um riff de guitarra, os violões marcantes. Questões sociais e amorosas, mas tudo passando pelo prima emotivo, sem o grito e a explosão do 1º disco.
O melhor disco lançado nos anos 80, sem dúvida.
Abaixo estão os vídeos do Youtube, retirados do programa "Discoteca MTV", com um especial sobre esse álbum. Vale a pena conferir.


Um comentário:

  1. Parabéns! A sua descrição e o comentário de cada musica me fascinou ainda mais. Fez-me sentir cada sentimento que nessas obras existem, mesmo não escontando-as há alguns meses. Fez-me lembrar também que necessito voltar a escutar Legião diariamente. *-*

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